POR VEREDAS E CAMINHOS

Escrever! Quem escreve, precisa domar essa ânsia de comunicação, essa necessidade de saber se o seu pensamento encontra eco, ressoa, como sino que plange, alegre umas vezes; tristonho, ensimesmado e até lúgubre noutras.

São tantas as ondas de sentimentos que chegam, como as marés montantes; cheias, plenas, entumescidas, espumantes e com a força irresistível da Natureza que é difícil e penoso contê-las! Elas vêm rolando de longe, crescem velozmente à medida que avançam, avultam, amedrontam e explodem com fragor incontido.

E a avalanche é de tal porte que inunda todo o ser e há , na impossibilidade de ignorá-la, fazer com que, pelo menos, seja disciplinada e ordenada; conter seu ímpeto, domá-la!

Prosa e verso vêm rolando na espuma, cada qual como que disputando a primazia da pena do pobre escritor, que, se pudesse, faria como Leonardo da Vinci e escreveria com as duas mãos ao mesmo tempo e até de trás para frente.

Mas essa tão avassaladora onda, não pode ser contida assim com tanta facilidade! No meio de um texto, frases soltas, versos esparsos, novas inspirações furam o bloqueio e se intrometem nessa hora imprópria, desviando o pensamento, fazendo com que se inclua trechos estranhos ao que se pretendia fazer, embotando de tal forma o raciocínio, que é preciso parar e repensar tudo!

Caminhos e veredas se abrem, todos ao mesmo tempo e, nesse caos, um só deve ser selecionado e para ele direcionado todo o potencial do escritor. É um exercício permanente, uma luta constante, um aprendizado sem fim.

Schopenhauer, polêmico e provocador, entre muitos conceitos emitidos sobre a arte de escrever, disse, por exemplo; "Uma pessoa só deve ler, quando a fonte de seus pensamentos próprios secar" - "A maioria dos escritores vive DA literatura e não PARA a literatura." - "O escritor é ruim quando escreve por dinheiro." e "Quem lê muito, escreve pouco" - "O público é tão simplório que prefere ler o novo do que o bom." , mas arremata lindamente; - "O reconhecimento pela posteridade, costuma ser pago com a perda do aplauso por parte dos seus contemporâneos e vice-versa."

Mas eu, como aprendiz de escritor, procurei e encontrei o meu arrimo nas palavras do eterno Graciliano Ramos, ao criar um paralelo entre as lavadeiras de roupa e os escritores.Diz ele;

 

"Somente depois de feito tudo isso ( lavar, bater, lavar, bater de novo)

é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para se-

car. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A pa-

lavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi

feita para dizer."

Já encostei meu umbigo no tanque!

Grande Graciliano!

 

( não deixe de ler o colega Afonso Martini)

paulo rego
Enviado por paulo rego em 21/11/2012
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