REPENSANDO A VIDA

REPENSANDO A VIDA

O sol já pendia, deixando os seus últimos raios varrerem o pico do monte, no qual, por trás se escondia. Do outro lado da praia, o sombreado escuro da tardinha era o prenuncio de que o dia findava e com ele por certo, o cansaço daqueles que haviam cumprido suas tarefas cotidianas. Pensando assim, julgava eu já haver finalizado também a minha parte. Revolvendo meus pensamentos, sentei-me na areia da praia e fiquei a contemplar um bando de pássaros que passavam enfileirados formando uma pirâmide. Iam e voltavam como se contemplassem a nós, cá em baixo, a digerir nossos problemas, nossas dúvidas, nossas angustias e nossos sentimentos.

E na visão fantástica ao desenho deixado pelo traçado desse vôo em meu imaginário, observava o bando formado por dezenas desses pássaros migratórios em forma de pirâmide, que a essa altura, já se perdiam no horizonte, e eu quase entorpecido pela contemplação à aerovia seguida por essas aves, nesta época do ano, me pus a pensar, sem com isso, perder de vista, um quase pontinho escuro em que a pirâmide se tornara. - Pensando, me perguntava. Qual o destino dessa passarada? Quais são suas preocupações? Que sentimentos eles carregam? E por que nós não temos a suposta liberdade desses passaros? Liberdade esta, imaginada por mim, de poder voar como estas aves que voam e voam sem se deixar abater pelo cansaço da jornada empreendida. Presenciei que, se uma do bando fica para trás, outra se desloca e tenta ajudá-la a juntar-se para o vôo coletivo. Foi quando me lembrei de haver lido um texto onde explicava que essa ave desgarrada, quando muito se afastava, o ajudante de vôo permaneceria junto ao passaro afastado até que, ambos voltem a alcançar o bando ou pereçam juntas em algum lugar, sem que tenham alcançado seu destino. É da natureza dessas criaturas maravilhosas.

E numa incompreensível busca de respostas para as duvidas, angustias e sentimentos do homem, me interrogo placidamente. - E somos nós os inteligentes? - Cá estou eu, com as minhas conjeturas, como tantas outras pessoas a questionarem o inquestionável, a buscarem sozinhos aquilo que só obtemos quando formamos parcerias para caminharmos juntos. Quantas vezes por inabilidades erramos, quando na verdade só queríamos acertar. Quantas vezes magoamos, quando só queríamos fazer o outro feliz. Mas, sequer sabemos o que é felicidade! Dizem que a felicidade é feita da junção de pequenos encontros ou momentos felizes, assim como, os pequenos retalhos que se juntam para formar uma colcha. Porém essa obra artesanal da felicidade parece está sempre inacabada para o homem.

Sabe Deus que tentamos de alguma forma amenizar dores sofridas, não cicatrizadas, mas, nem sempre alcançamos os resultados esperados. E às vezes quase nos sentimos fracassados nessa empreitada. Não é tão fácil curar a dor de quem sente, cicatrizar lesões expostas, em decorrência da insensatez humana. Restituir ao outro, a sua auto-estima, sua dignidade, e fazê-lo ver que, o esforço desprendido para a cicatrização dessas fendas, poderar ser compensador.

Não posso imaginar tais fatos ocorrerem naquele bando de pássaros, ditos selvagens.

Mas, o homem no pensar e repensar da vida possibilitarar sem sombras de dúvidas, atingir um dia, à capacidade de discernimento involuntário de ordem, organização e a interatividade reinante, no mundo desses pássaros. E nessa busca por vezes baquearemos, mas, não haveremos de retroceder se o muito, no pouco conseguido, pode fazer a diferença.

As primeiras estrelas começavam a brilhar no infinito, ai me dei conta de que a noite havia chegado, levantei-me, sacudi a areia presa na calça jeans que vestia, olhei na direção do monte aonde o sol se escondera, e agora sim, com a sensação do dever cumprido, e como os pássaros que voam, caminhei lentamente em busca de um repouso. Do merecido repouso.

E nunca haverão de dizer-me. Porquê não tentou?

Novembro de 2006

Feitosa dos Santos, A.