"E a loucura finge que isso tudo é normal"

Aceso a Av. Salim Farah Maluf, São Paulo, Zona Leste. Rua um tanto quanto perigosa devido a grande quantidades de assaltos que ali ocorrem. Descia mais uma manhã, como já fazia há exatos três anos, para ir ao trabalho. Espirro, coço os olhos e o nariz constantemente., costume de pessoas que têm rinite e vivem em São Paulo em meio a fumaça dos caminhôes da Salim. Pensando na vida e com os olhos lacrimejando de tanta fumaça de carro e sem pensar no perigo daquela rua, distraidissima, como sempre com os pés e a cabeça totalmente na lua, vi, ainda com a mente embaralhada de sono, distração e rinite; papelões, latas algumas outras coisas cairem no chão. Demorei pelomenos um minuto para me dar conta do que estava acontecendo. Um "catador" de quinquilharias, descia aquela mesma rua um pouco na minha frente, com sua carroça cheia de "lixo" ( lixo ás vistas de quem vê e não de quem participa daquele cotidiano).

Com certa dificuldade para segurar a carroça naquela descida, o probre coitado deixava cair as coisas com frequência, parava, pegava tudo o que caía e colocava na carroça novamente. Alguns segundos depois caía tudo outra vez, e lá ia ele repetir todo o anterior ato, isso se deu pelomenos trê vezes. Nunca fui uma pessoa muito paciente, mas aquelas coisas caindo a todo momento estavam me deixando extremamente irritada. Sempre tive o "coração mole", mas naquela hora estava apenas irritada. Estuguei - me e abordei o "catador" de quinquilharias.

--- Apoia lá na frente da carroça que eu seguro aqui atrás.

Ele totalmente assustado nada entendia.

--- Vai moço, segura logo que eu já estou atrasada pro trabalho, rápido. --- dizia eu ewm tom irritado.

--- Ô moça, você ta maluca é???

--- Maluca por que? O Senhor está aí, completamente atrapalhado com este monte de coisas caindo a todo momento, eu apenas quero ajudar a carregar até lá me baixo. Segura logo que esse negócio aqui ta pesadooo!!!

Ele, sem entender nada de nada, aceitou e fez o que eu havia lhe pedido. Um carro subiu a rua e ao ver a cena, (que analisando hoje, foi muito engraçada), parou e fez - me um sinal como se eu estivesse louca e como se, talvez, o pobre "catador" fosse me fazer algum mal.

Loucura? Como disse Raul Seixas em uma das suas músicas que retrata perfeitamente a banalização dos atos humanos: "...E a loucura finge que isso tudo é normal..."

Fi
Enviado por Fi em 03/03/2007
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