Crônica de um pai em apuros

Um amigo de longa data chamou-me para uma conversa em sua casa, disse-me que precisava desabafar e me pedir uma opinião. Lá pelas seis da tarde cheguei a sua casa. Aqui em Minas, conversamos na mesa da cozinha, ao redor de uma garrafa de café. Meu amigo não rodeou o toco e disse-me que tinham lhe falado que seu filho, de dezesseis anos estava usando drogas. Que começou a reparar comportamentos estranhos no moleque. Disse-me que ele agora chega sempre tarde em casa, que anda com uns moleques do tipo muito ruim, que não conversa mais com o pessoal da casa, que come feito um louco e que tinha encontrado um frasco de Moura Brasil nas coisas dele, coisa que o deixou muito desconfiado porque o menino gozava de ótima saúde dos olhos. Depois de me informar a situação em que se encontra o filho, comentou, meio sem graça, que ele sabia que, quando eu morava em Brasília, eu era metaleiro, cabeludo e que, segundo contam, tinha tido experiências com drogas. Ponderei que minhas experiências tinham se limitado a alguns cigarros de cannabis e que isso não foi exatamente um vício, ou um problema e que cada caso é um caso. Mas para tranqüilizá-lo, comecei a louvar as qualidades do filho, que era o melhor aluno da escola, que ele tinha o hábito de ler e que demonstrava uma inteligência acima da média dos garotos da idade dele, que certamente não iria cair num negócio desses. Disse a ele que falasse com o garoto abertamente sobre isso. Afirmei cheio de certeza, que ele iria descobrir que isso tudo não passava de boatos da gentinha sem o que fazer da cidade. Quando terminei de levantar a bola do garoto para o pai, eis que entra na cozinha o galalau, bermudão amarelo até as canelas, camiseta rosa shock e boné verde cana. Foi entrando e nos saudando:

_ E aí, zentes? Beleza?

Dito isso, sob nossos olhares atentos, pegou a garrafa com café, foi até o armário, pegou um copo, encheu até a borda com café quente, pegou um pacote de biscoito, pegou a garrafa com café, abriu a geladeira e,pasmem, pôs a garrafa lá dentro, saiu calmamente,foi ligar a televisão na sala. O meu amigo me olhava com uns olhos enormes, eu, me derretia na cadeira e escorria pelo chão. Meu amigo meio passado ainda comentou:

__Ô moleque doido, sô.

Geraldo Rodrix
Enviado por Geraldo Rodrix em 23/11/2012
Reeditado em 23/11/2012
Código do texto: T4000877
Classificação de conteúdo: seguro