Giselda, a galinha azuretada

A imprensa local noticiou a prisão de uma dona de casa que, ao visitar o filho na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, transportava um frango congelado. Não se tratava de um galináceo comum: a ave estava recheada com algumas trouxinhas da erva-do-diabo.

Um leitor mais atento, pensará: “Levar frango congelado para um interno na penitenciária? E, nas celas eles têm freezer, churrasqueira, forno, fogão ou microondas?”

Há poucos dias, visitei a Penitenciária Agrícola. O pátio da Instituição em dias de visitas – pasmem - está mais pra mercado persa do que para abrigo carcerário: bancas de churrasco onde se vendem refrigerantes, cigarros, cartões telefônicos e salgadinhos, além de outros comestíveis e bebidas, são instaladas ao longo da área para banho de sol sem que se saiba quem são os seus proprietários ou quem autoriza os seus funcionamentos.

O frango apreendido – se assado nas churrasqueiras citadas acima – naturalmente serviria para matar a “larica pós-fumaça” ocasionada pelo seu recheio.

A dona de casa interpelada e detida disse não saber nada sobre a droga no interior do galináceo.

Imagino seu diálogo com o carcereiro:

- Dona Maria, esta sacola é sua?

- Com certeza... (Com certeza, odeio a expressão “com certeza”).

- E estas trouxinhas do recheio?

- Que trouxinhas, seu...?

- Estas trouxinhas de maconha que preenchiam o interior deste frango?

- Sei não, seu... Aliás, vamos corrigir: isso não é um frango qualquer... É Giselda, a galinha mais antiga do meu galinheiro. Sacrifiquei a penosa sob forte sentimento de culpa, pois, por mais de três anos, Giselda foi a rainha do nosso quintal.

E Dona Maria prosseguiu:

- Esta caipira só foi abatida porque andava se comportando de maneira muito estranha. Ultimamente, ela deu pra andar com uns cocoricós esquisitos... Sei lá..., mei que meio histéricos e sem sentido... As suas colegas de poleiro já tavam começando a ficar mei que estressadas e evitavam a companhia dela... O senhor acredita, seu, que duns tempo pra cá, ela andava mei rebolativa e muito provocante...? Tive inté a impressão, seu, de que ela tinha esquecido o charme do garnizé e tava se bandeirando pro lado de uma frangota que eu ganhei de presente do compadre Raimundo... Ontem, seu, eu vi a danada deitada de barriga pra cima, com as pernas abertas, numa indecença de fazer nojo. Decidi acabar com a pouca vergonha no terreiro, abater a safada e aproveitar pra festejar o aniversário do Juninho aqui na P.A.

- Olha, seu – continuou dona Maria com a voz embargada –, se eu desconfiasse que a Giselda andava metida com maconha, eu tinha apelado pro doutor Serginaldo, um veterinário amigo nosso, e tinha tentado tirar ela desse vício do capeta.

- Eu, Deus que me livre, tenho ojeriza a esse negócio de drogas. – Concluiu.

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 03/03/2007
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