Os jogos

Há jogos de paciência, de estratégia, de agilidade, de memória e ilusão. Eu tiro o chapéu para aqueles que conseguem manter seus jogos continuamente dinâmicos, sem tédio, mesmice, previsibilidade, sem se valer de recursos baixos, trapaças, atalhos. Bato palmas para os raros que conseguem vencer sem mentiras, sem cinismo ou hipocrisia. Afinal, para os mais competitivos, trata-se apenas de um jogo: o jogo da vida, onde o que importa é vencer, e se dar bem, independente do quanto isto custe. Mesmo que isso envolva enganar pessoas, trair sua confiança, jogar pessoas contra pessoas. Essas estratégias sem sal que todo mundo conhece das telenovelas. Uso e manipulação de pessoas, sentimentos, vidas, e Game Over.

Eu escolhi não jogar este jogo assim, mesmo estando na moda, porque meus valores resistem. Me pergunto se vai adiantar permanecer careta, acreditando nas pessoas. Se vai adiantar tentar esclarecer mal-entendidos, desmascarar inverdades ditas a meu respeito, dar a cara à tapa quando questionada sobre minha conduta diante dessa ou daquela situação. Sempre me apresentei como alguém transparente, a quem se pudesse perguntar o que fosse sem se preocupar. Mas começo a repensar se, no jogo da vida, ganha quem joga limpo ou quem joga sujo. Eu proporia novas regras, mesmo sabendo que é muito mais confortável para as pessoas de caráter duvidoso continuarem causando desastres: que as pessoas sejam francas. Que assumam as consequências de seus atos. Que não tenham receio de jogar limpo. Que parem de tentar trapacear a todo custo. E que, caso queiram manter-se jogando sujo, que ao menos sejam originais em suas estratégias. Criar intriga, fofoca, jogar pessoas umas contra as outras é, no mínimo, pouco criativo e previsível. Que eu tenha parcerias na vida para as quais não precise me valer dessas coisas. E que nada, absolutamente, abale as relações cujos alicerces estão fundados no respeito, na amizade e na honestidade.