Descobertas que Descobrem
Flavia Costa


Acabo de ler a informação que cientistas australianos descobriram um novo tipo de lagartixa. Mais um para apavorar os “lagartifóbicos” como eu. E eu que pensava que lagartixas eram só aquelas tripas brancas, às vezes também cinzas ou amarelas, que vivem me amedrontando. Nada, existem mais de 300 tipos, de tudo quanto é cor e especificidade e algumas têm uma habilidade tão grande para se camuflar que se parecem com qualquer coisa, menos lagartixas. Interessante é que, tal como nós, segundo a ciência, as lagartixas se originaram na África e se espalharam pelo mundo. Se for assim, provavelmente, as duas espécies, desde sempre, se correlacionam pelos caminhos da evolução e, pode ser que, tenhamos aprendido algo com as lagartixas.

Partindo desse pressuposto, talvez, possa dizer que seres humanos são meio lagartixas. Somos vários, com características díspares, mas somos todos seres humanos e, tal como as lagartixas, nos espalhamos pelo mundo. Também nós, como humanos, algumas vezes, temos que moldar o que realmente somos para nos adaptarmos a determinados ambientes ou situações e não causarmos desconfortos. Isso a maioria já fez, claro, para a boa convivência em sociedade, atitudes como essas, em algumas circunstâncias, são necessárias. Mas, creio que as lagartixas usam essa tática apenas momentaneamente, pois, provavelmente, deixariam de ser lagartixas e se tornariam aquilo que estão tentando demonstrar.

E esse negócio de se camuflar de outra coisa, existem lagartixas que o fazem tão bem que outro dia vi uma imagem que, a princípio, era uma folha de árvore dobrada em cima de um tronco, mas a matéria insistia em dizer que era lagartixa, como acho que era uma publicação séria, acredito. Perceba que perigoso esse tipo de lagartixa, se disfarça de folha, mas na verdade são lagartixas, prontas para atacar. Como eu tenho medo delas, sempre acho que elas querem atacar. Acredito que não existam seres humanos camuflados de folhas por aí. Eles usam outros disfarces, alguns se camuflam até de humanos, olha que perigo! Espero nunca esbarrar com nenhum desse tipo, devem ser mais assustadores que lagartixas.

Também há lagartixas que são o que são, não mudam sua aparência, independente das circunstâncias. Certamente, essas são mais fáceis de serem reconhecidas. Não sei se é melhor ou pior. Porque, às vezes, podemos estar em algum lugar, cientes que não existem lagartixas camufladas e ficamos aliviados, entretanto, dependendo do tipo das sinceras, quando se apresentam, podem causar um certo constrangimento. Mas, pelo menos, sabemos com qual lagartixa estamos lidando, não é mesmo. Quanto aos humanos, bom, acho que não preciso acrescentar, as lagartixas explicaram bem.

Agora se há algo interessante nas danadinhas das lagartixas é capacidade que elas têm de se regenerarem depois que perdem a cauda. Olha que maravilha, elas reconstituem o próprio corpo. Nós não temos essa característica, claro. Mas também temos a capacidade de nos recompormos em termos emocionais e em alguns aspectos até físicos. Afinal, passamos por perdas, desilusões, acidentes ou doenças que nos limitam e achamos que nunca mais seremos os mesmos. É evidente que as marcas e as dificuldades dessas situações ficam para sempre, mas nos reestruturamos e damos a volta por cima, aprendendo a viver de forma melhor, mesmo depois termos sido podados pelas circunstâncias da vida. Talvez, seja essa a maior lição que aprendemos com as lagartixas.

Eu, apesar de temer as lagartixas, sei da importância delas para o ecossistema, por isso, já que elas existem, devo aceitá-las, não matá-las. Elas comem insetos e aracnídeos e se não fosse por elas a população desses seres tomaria conta. Se já é difícil lidar com aquele tanto de pernilongo na época que eles são abundantes, imagina se não houvesse lagartixa? Está aí, vivemos num mundo onde tudo existe para se equilibrar. Confesso, agradeço as lagartixas, mas prefiro não vê-las.

Há algo que me pergunto, será que as lagartixas têm noção das outras lagartixas que existem espalhadas pelo mundo? E se têm, será que elas ficam disputando quem se camufla melhor, quem se recompõe mais rápido, quem é mais bonita, quem trabalha melhor para o equilíbrio do ecossistema, quem amedronta mais os “lagartifóbicos”, quem tem a cor mais interessante, enfim, quem é superior? Bom, como eu não sou lagartixa, não terei respostas. Mas sei que não importa qual seja a afirmação, como humana, continuarei tendo medo de lagartixas. A minha "humanidade" me faz temer alguns seres inferiores.

Opa, seres inferiores?! Lagartixa superior?! É, realmente, sou humana, não há com que comparar. As lagartixas (qualquer uma, dos mais de trezentos tipos existentes) nunca falariam assim uma das outras ou até mesmo sobre mim, mesmo sabendo que o medo é dominante.

Dominante? Mas em que sentido? As lagartixas quando se camuflam o fazem por que têm medo ou por que querem atemorizar? Quem engana quem? Quem exerce “poder” sobre quem? Ficam aí questões humanas, sem lagartixas.