ANTES MORRER...

Prof. Antônio de Oliveira

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Nosso país é, no mínimo, curioso. Em novembro de 2012, José Eduardo Cardozo declarou: “Do fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa, eu preferiria morrer”. Mais curioso ainda é que esse cidadão é justamente o ministro da Justiça. Mesmo que ele não tenha responsabilidade direta sobre “alguma prisão nossa”, ele ostenta, no título do cargo, a palavra justiça. Coincidentemente, o ministro fez essa declaração, tipo desabafo, um dia depois de o Supremo Tribunal Federal ter condenado José Dirceu a dez anos e dez meses de prisão. Foi preciso um ex-ministro ser condenado para que o titular da Justiça classificasse de medieval a estrutura do sistema prisional brasileiro. Com relação à corrupção, disse que “é um negócio que infelizmente vem da nossa cultura”.

Acho eu que é também da nossa cultura não admitir o óbvio, tapar o sol com peneira, fugir às evidências negando ou dissimulando o que é evidente, como escândalos públicos e notórios que prejudicam, direta ou indiretamente, a população. Só agora, estar encarcerado ou, como se diz na gíria, ver o sol nascer quadrado, no Brasil, aparece como “não dignificante”, vale dizer, degradante. Nossas autoridades em geral não admitem fracassos, ou sempre têm uma resposta para minimizá-los. Serve-se suculenta pizza com uma doce limonada feita com limão azedo. Em suma, falta autocrítica, pessoal e institucional, inclusive às obras, feitas ou por fazer. Sei que na prática é difícil ser autêntico. Maquiar, criticar, prometer é fácil; difícil é fazer. Mas é preciso fiscalizar o básico, independentemente das pessoas atingidas, sobretudo quando se propalam, demagogicamente, medidas em favor das minorias marginalizadas.

Curioso, ainda, é que a palavra cárcere significa também o lugar de onde saíam os cavalos, nos circos da antiga Roma. Ah! Qualquer semelhança pode ser mera coincidência, a menos que esses cavalos fossem tratados a pão de ló.

Antônio Oliveira MG
Enviado por Antônio Oliveira MG em 27/11/2012
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