Onde morrem os pássaros
Meio de tarde de um feriado quente, sem vontade de sair de casa e enfrentar esse calor úmido que insiste em permanecer na cidade. Fico sentada no quarto, olhando o movimento lento das folhas das árvores e seus galhos pela janela. Os passarinhos parecem ter sorte por não sentirem tanto calor, ou então são muito corajosos: insistem em cantar. Desde que cheguei, observo como existem em grandes quantidade e variedade por aqui. Sempre estão de um lado para o outro, ruidosos, nos lembrando de sua presença, cantando fielmente desde as quatro até às dezenove horas. Alguns mais curiosos vêm e pousam na janela ou na varanda, buscam algumas sementes caídas da árvore ao lado e se vão. São muitos, são muitas vidas, mas onde é que morrem os pássaros? Claro que vez ou outra me deparo com um deles, normalmente uma pombinha, atropelada por aí; mas e os que morrem de forma natural? Será que pressentem o fim e se afastam? Se for dessa forma, cresci acreditando numa mentira, sempre me disseram que os pássaros morrem sem sentir, serenos e despreocupados. Talvez escolham um lugar lindo para passar os últimos momentos, se é que existem formas e lugares bonitos de partir. E não sendo assim, morrendo seja lá onde for, talvez tenham como maior sorte poder passar toda uma vida sem ter que pensar na morte.