Onde morrem os pássaros

Meio de tarde de um feriado quente, sem vontade de sair de casa e enfrentar esse calor úmido que insiste em permanecer na cidade. Fico sentada no quarto, olhando o movimento lento das folhas das árvores e seus galhos pela janela. Os passarinhos parecem ter sorte por não sentirem tanto calor, ou então são muito corajosos: insistem em cantar. Desde que cheguei, observo como existem em grandes quantidade e variedade por aqui. Sempre estão de um lado para o outro, ruidosos, nos lembrando de sua presença, cantando fielmente desde as quatro até às dezenove horas. Alguns mais curiosos vêm e pousam na janela ou na varanda, buscam algumas sementes caídas da árvore ao lado e se vão. São muitos, são muitas vidas, mas onde é que morrem os pássaros? Claro que vez ou outra me deparo com um deles, normalmente uma pombinha, atropelada por aí; mas e os que morrem de forma natural? Será que pressentem o fim e se afastam? Se for dessa forma, cresci acreditando numa mentira, sempre me disseram que os pássaros morrem sem sentir, serenos e despreocupados. Talvez escolham um lugar lindo para passar os últimos momentos, se é que existem formas e lugares bonitos de partir. E não sendo assim, morrendo seja lá onde for, talvez tenham como maior sorte poder passar toda uma vida sem ter que pensar na morte.

Mariana Ribeiro
Enviado por Mariana Ribeiro em 30/11/2012
Reeditado em 04/02/2016
Código do texto: T4012916
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