eu e Lispector

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado". (Lispector)

Passava eu, e mais um milhão de passantes e entre estes algumas dezenas de crianças que incrédulas também olhavam desconfiadas e nada entendiam mesmo que os contos de fadas sejam histórias de fantasias. (Irineu).

“Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito". (Lispector).

Ali era a curva da realidade nua e crua e destemperada de toda holística do ser e do saber. A cocaína chamada televisão já desmistificou os pudores e os valores morais da convivência respeitosa e harmoniosa nos valores culturais!

Ali, que digo é uma estação de linha de Metrô, e lá estava um casal fazendo "xexo"; foi assim que um dos passantes se referiu às cenas cinematográficas, não me perguntem o que é xexo. Penso que sexo todos os animais sabem mesmo sem escola, sexo se aprende com o viver, e respeitar as diferenças não é fazer vistas grossas para as indecências. Sexo poderia ser compreendido na lógica do prazer total em um motel, ah sem preconceitos, então tá num hotelzinho de esquina, mas em pleno movimento de trabalhadores da mais-valia?(Irineu)

O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem à inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo”. (Lispector).

Todos olhavam para as lésbicas que pareciam mesmo querer dar espetáculo de graça. Se o guarda fosse dizer para as duas que lugar de "sexar" deve ser um lugar reservado, mais intimo. Daí diriam os incautos que é discriminação, e eu incrédulo pensava agora já na escada que me distanciava em volta de burburinhos. Na ordem legal poderia ao menos respeitar os passantes. Será que estou desentendido e fora da ordem mundial?(Irineu)