Viajando comigo

“Eu vi a mulher preparando outra pessoa...” – Caetano Veloso


 
Como uma grande parte das pessoas acostumadas com o seu cantinho, eu tenho imensa dificuldade de  dormir quando vou para minha terra, Santa Teresa, no interior do Espírito Santo. Não sei se é a ansiedade de rever a minha família e poder visualizar o rostinho de minha mãe me esperando na porta entreaberta, a necessidade de correr para a velha cozinha e tomar seu café com um bolo feito por ela, a algazarra de Gabriel e Ana Clara, os abraços que recebo de tantos. Só sei que quando volto para minha casa eu estou em caquinhos. Meu corpo dói, meus olhos queimam, minha coluna sai do lugar. Quando chego em casa, tudo que quero é um banho e soltar a respiração.

Entretanto, nada disso é negativo. É uma sensação tão boa estar com os meus que quando eu solto esta respiração libero toda a emoção de ter estado juntos mais uma vez. Falando com minha irmã em recente jantar – e que delícia de encontro – comentei que em nossa família nunca aconteceram contendas, cujo sinônimo mais importante é o conflito.  Não tivemos uma família perfeita, onde as briguinhas entre nós eram as mais naturais, mas conflito, aquele que machuca por dentro e por fora, jamais. Amém.

Para chegar a Santa Teresa passamos pela BR 101 Norte, cheia de caminhões, ônibus, motos, motoristas bons e outros nem tanto. O problema de dirigir nesta BR é o cuidado dobrado que devemos ter. Com as duas cirurgias de descolamento de retina que já experimentei, tenho certa dificuldade de focar a estrada quando olho no sentido horizonte. Com chuva as coisas ficam mais difíceis. Tenho que alternar os dois olhos que Deus me deu entre fechar um e manter o outro aberto, para que a visão dos carros não se duplique. Só consigo relaxar quando os vinte e oito quilômetros restantes são alcançados. Daí em diante, minha visão volta ao estado normal e eu posso desnudar aquela paisagem magnífica das montanhas de minha terra, como se fosse pela primeira vez.

Tenho vivido emoções um tanto intensas neste ano. Aquele amor que eu tanto queria chegou com força, de muito longe. Minha vida virou de ponta cabeça em ângulo de 180º graus. Tudo agora gira em torno da idade mental que tenho e não do ano em que nasci.
“Amar e ser amado” são palavras simples e exatamente o que existe de mais bonito criado neste mundo. Quando minha Nona Cecília me dizia sobre ter um “Amoroso”, eu ainda era muito imatura para entender. Hoje não somente entendo como vivo cada segundo com toda a força que meu coração pode ter.


Fico divagando entre a minha viagem comigo e tudo que eu queria dizer vai ficando para trás, talvez assuntos para outros textos – como escritora atual, fica difícil dizer e não tenho vergonha de dizer dos melindres de classificá-los de uns tempos para cá, sejam crônicas “ipsis litteris” ou apenas contos do cotidiano.

Finalmente conheci a Cida, grande amiga da minha irma Nega,  a moça que vende flores na feira de minha terra. Ganhei um abraço tão apertado que me fez lembrar outro abraço que tenho recebido. Ela é pequenina, de olhos vivos, usa batom, pinta os lindos olhos, cabelos curtos, usa uma calça comprida de forte tecido, galochas e algumas blusas, uma por cima da outra. Cida venceu uma doença invasiva e sua cura surpreendeu os médicos.

Ao mostrar suas mãos, pude ver, por ordem: não tem esmalte nas unhas, os dedos são cheios de pequenos calos, a cor escura em torno das unhas indica o uso das mãos com a terra e um orgulho que enternece ao ver suas mãos abertas para o trabalho verdadeiro, aquele que a gente se esforça para viver a vida em plenitude, seja lá como for – sem que precisemos adornar nosso corpo com ouro.

 
 
 
Bom domingo! Para Renzo, sendo preparado por Candida e supervisionado por Leo!


 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 02/12/2012
Reeditado em 02/12/2012
Código do texto: T4015718
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