QUIETUDE
A tarde está muito quente.
Um calor abafado, quase insuportável.
Debaixo das mangueiras, os mosquitos em seu voo, parecem brincar de pega-pega. Também na rua o silêncio é muitas vezes quebrados pelos automóveis que desfilam com seus motoristas alheios ao meu mundo.
Ninguém imagina que por detrás do muro cinza a solidão impera. Não se ouve diálogos, não se ouve risos, apenas o silêncio sepulcral, mortal.
Diante de alguns artigos didáticos, tento me distrair, ou concentra, a mente " a República bate às portas" e "Monarquia perde força com a Lei Áurea", tudo tão distante mas com sequelas tão presentes.
Leio um pouco, canso, deixo-me estar quieta como tudo está quieto a minha volta. Nessa quietude só minha mente inquieta faz alarde: xinga, briga, amaldiçoa, excomunga e depois também se aquieta. Assim são os dias longos, assim são as tardes quentes, assim as noites solitárias, noites de insônia sem fim.