O Julgamento da Corrupção

Tanto se falou em mensalão durante este ano que está por terminar que eu também sucumbi à tentação de fazê-lo.

Preciso contar-lhes que quando comecei a escrever, o título era outro – “Mensalão, Mensalões, Mensalinhos e Messalinas” – e começava assim:

“Tenho ouvido e lido tanto besteirol sobre o assunto que resolvi botar também minha colher nesse caldo.

Sabemos todos (ou deveríamos todos saber) que a corrupção não foi inventada pelo PT, nem pela Revista Veja, nem pelo STJ e muito menos pelo Delúbio, o Genoíno ou o Zé Dirceu. Corrupção é uma espécie de pecado original da nossa República que já nasceu com seu DNA corrompido.

A coisa vem de longe...”

E seguia dizendo que num longinquo 15 de novembro, há exatos 123 anos, por conta de alguns boatos engendrados pelo positivista Benjamim Constant, um punhado de militares tinha saído da caserna para fazer manifestações de rua. Um velho e quixotesco marechal de nome Manuel Deodoro, herói da Guerra do Paraguai, foi chamado para conter a agitação e, acenando seu quepe, mandou-os de volta para casa com o grito de “Viva o Imperador!” Depois, quando lhe disseram (o que não era verdade) que o Gaspar Silveira Martins, que já lhe tinha roubado os favores amorosos da bela viúva Adelaide, iria assumir o Conselho de Ministros, aderiu à conspiração e chefiou o golpe militar que derrubou a Monarquia Constitucional...

E lá ia eu contando a História da República Brasileira. Não a oficial que é a da hipocrisia, mas a real e que não cheira propriamente o cheiro bom dos livros, porque sempre esteve à flor do lodo ou mergulhada nele.

Todo o período chamado de República Velha – desde 1889 até o golpe de 1930 – foi pródigo em escândalos de corrupção e compra de votos. Não foi diferente com Vargas – de 1930 a 1945 – e, também, depois, até que novo golpe militar depôs Jango em 1964. Durante as trevas da ditadura que se seguiu, a corrupção feita política de estado foi instrumento de sustentação da tortura, o máximo de degradação a que o ser humano pode ser submetido. Restabelecido o estado de direito com a consequente eleição de presidentes civis, a corrupção, longe de ser contida, recrudesceu de forma endêmica.

Parece que é da nossa tradição a prática da gorjeta e da propina. Dá-se gorjeta ao garçon para conseguir atendimento diferenciado: uma dose mais generosa, uma conta menor ou artificialmente diminuída; em suma, para levar vantagem.

O empresário pratica caixa dois e dirá que o faz porque é achacado por impostos e precisa sobreviver. O mesmo vale para o profissional liberal e para o homem comum. Juízes vendem sentenças ou, no caso do Lalau, perpetram fraudes faraônicas. Funcionários de carreira que deveriam ser exemplos de moralidade, desviam milhões. Lembram-se de uma tal de Jorgina? As grandes corporações, principalmente em seus negócios com governos, agem da mesma forma: propinam para fraudar licitações e conseguir contratos vantajosos. Os políticos gastam para se eleger, cem vezes ou mais do que aquilo que vão receber de salários ao longo de todo o mandato. Se forem hipócritas o bastante dirão que isso é renúncia cívica, mas se prestarmos atenção nas suas trajetórias públicas, vamos encontrá-los, mais à frente, com patrimônios milionários.

A conquista de apoio parlamentar pelos governos, tanto no âmbito federal como estadual ou municipal, sempre se deu pela barganha fisiológica e pela compra de votos. O preço do voto é variável; pode ser a nomeação de um correligionário, um cargo em comissão, uma secretaria ou um ministério, a concessão de uma emissora de rádio ou um canal de televisão, ou mesmo o velho e prosáico ‘vil metal’, na forma de mensalões e mensalinhos.

Exceção, se houver umas e outras, hão de servir apenas e tão somente para confirmar a regra.

Lá pelas páginas tantas resolvi que era melhor deixar essa conversa para outra ocasião. Quem sabe um dia me dê na telha publicar o texto todo, com todo o rosário de escândalos havidos ao longo desses 123 anos de existência da provecta dona República. E dar uma canja também à volúvel Messalina dona Mídia, que vive reivindicando para si o direito de expressão que é exclusivo e inalienável de cada cidadão. Os meios de comunicação estão em mãos privadas (empresas/monopólios), já têm de sobra direito de imprensa e, por enquanto, sem qualquer marco regulatório que lhes coíba os excessos cometidos.

Por agora quero só dizer, ainda, umas poucas palavras.

Tendo acompanhado essa balbúrdia cheia de contradições e contraditórios que a grande imprensa apelidou de Mensalão, fiquei pensando no que o Stanislaw diria disso tudo.

É, isso mesmo, o Stanislaw Ponte Preta, o arguto Sérgio Porto, de saudosa maloca, digo, memória. Ele, o autor do FEBEAPÁ, o Festival de Besteira que assola o país, uma da raras vozes que ousou mangar dos generais presidentes, ridicularizando-os.

Vendo pela TV – ao vivo e a cores – o espetáculo representado por aqueles distintos senhores de capa preta, discursando, uns para os outros, doutrinas jurídicas velha e novas, num linguajar hermético e absconso, que diria Sérgio Porto?

Que diria da espetacularização midiática do julgamento de uma Ação Penal por doutos juízes? Será que acharia essa cobertura imparcial e informativa? Ou será que a consideraria facciosa e parcial?

Que diria Stanislaw assistindo, por exemplo, a um exaltado duelo verbal acerca da teoria do domínio do fato entre Barbosa e Lewandowiski?

É possível que nos dias que correm dissesse apenas:- Isso mais parece o verdadeiro Samba do Crioulo Doido! Por favor, meretríssimos...

luca barbabianca
Enviado por luca barbabianca em 05/12/2012
Reeditado em 09/12/2012
Código do texto: T4020971
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