Literatura X Liteira Pura

Literatura x Liteira pura

Jorge Linhaça

Considerações sobre o papel da literatura deve haver milhares circulando pelo mundo, seja em papel, em bits, ou de boca em boca.

São tantos os novos escritores que surgem a cada dia, das mais diversas vertentes, que seria leviano acreditar que houvesse uma uniformidade de pensamento em relação a este mister.

Não é minha intenção, portanto, que a minha visão seja tomada como verdade absoluta, mas sim que seja interpretada como o meu modo particular de entender e sentir o que se passa no cenário literário atual.

Creio que poderíamos dividir a literatura em dois grandes grupos, embora estes, por certo, tenham as suas subdivisões: A literatura engajada e a literatura lúdica ou descompromissada.

Na literatura engajada podemos englobar todos os textos que, de alguma maneira e com certa intensidade, se propõe a levar o ser humano a refletir sobre questões morais, sociais, políticas ou espirituais, visando o aperfeiçoamento do ser humano. Podem ser poesias, artigos, crônicas, redações, teses, romances ou o que quer que sejam. Podem ser explícitos ou não em sua pretensão.

Na literatura lúdica ou descompromissada, podemos enquadrar aquele tipo de texto que não tem nenhuma pretensão senão a de expor a alma ou a fantasia que se forma na mente do autor.

Claro que existem textos que são limítrofes, entre uma coisa e outra, cabendo ao leitor percebe-los de acordo com a sua ótica particular.

Os textos lúdicos são aqueles feitos para entreter, para passar o tempo, para descontrair e sem compromisso algum com a sociedade e sua dinâmica. São o que eu chamaria de Liteira Pura. Remetem ao tempo das longas viagens em lombo de escravos, quando os nobres, instalados em suas liteiras, protegidos das intempéries, desligavam-se de tudo o que se passava à sua volta, isolados no seu próprio mundo.

A literatura engajada, utilizando o mesmo contexto histórico, seria o equivalente aos versos e contos que saiam da boca do bobo da corte, figura no mais das vezes, ácida crítica dos costumes da época.

Foi da mistura do bobo da corte com os menestréis e bardos que, ao correr do tempo, originou-se a literatura de cordel, que, em plagas tupiniquins tornou-se literatura engajada.

Não se pode cair na tentação de dizer que um ou outro tipo de literatura é melhor ou pior do que o outro, cada qual cumpre o papel ao qual se propõe. Em tempos modernos, quanto mais literatura engajada houver maior opção as pessoas terão de refletir sobre a sociedade atual, entender sua complexidade e posicionar-se de acordo com sua consciência.

Por outro lado, não se pode desmerecer a literatura como mero entretenimento, pois às pessoas a capacidade de abstrair das mazelas do seu dia a dia e transportar-se para outros mundos recheados de personagens, ações e lugares com os quais possa identificar-se.

Salvador, 7 de dezembro de 2012.