A homilia do dia

Estava já acordada, mas curtindo a cama mais um pouquinho. Acostumada a levantar cedo todos os dias, em viagem, fico meio preguiçosa e nem ligo para o relógio, que trabalha sem descanso.

O sino da igreja toca. Aviso de que dentro de meia hora haverá missa. Então me apronto. Antônio e eu vamos à Matriz do Divino Espírito Santo, padroeiro do lugar. A Igreja fica logo cheia! Delfinópolis é uma cidade pequena, onde quase todos os habitantes são católicos. As pessoas que moram na roça também chegam e com sua fé tão pura e grande fazem ali agradecimentos e deixam pedidos.

O vigário, filho da terra, a todos conhece. Isto lhe dá uma certa liberdade no trato com os paroquianos. Os desconhecidos são turistas que vão ali para usufruir das muitas e belas cachoeiras que Delfinópolis possui.

Na hora certa, a missa é iniciada. Logo o padre vê que há visitantes. Cordialmente, deu-nos as boas-vindas à cidade e à celebração da sagrada cerimônia. Ele não reconheceu o seu conterrâneo assim de imediato porque o Antônio passou muito tempo afastado da terra natal.

Na hora da homilia, a mensagem do Evangelho de São Mateus sobre o semeador foi bem compreendida pelos fiéis pois a comunidade é formada em sua maioria por pessoas que trabalham com a terra. Atentas aproveitaram bem das lições e orientações práticas para o dia a dia. Encerrou a fala com as palavras de Padre Armando Rodrigues: “Em nosso ser temos terreno de todas as qualidades. Na docilidade ao semeador que é Cristo, na entrega sacrificada, na sintonia com o Espírito Santo, na vivência sacramental e na responsabilidade pela construção do Reino havemos de transformar o terreno menos produtivo e oferecer todo o terreno bom.”

O padre tinha também o hábito de, no final da missa, deixar uma palavrinha às pessoas sobre questões de conduta, de postura e outros quesitos mais.

Naquele dia, de uma maneira especial, dirigiu a palavra às mulheres, estimulando-as a terem mais cuidados com a aparência física, com a higiene corporal a começar pelos pés. Recriminou aquelas que não usavam um ralinho nem creme, ficando com os pés feios e rachados.

À nossa frente, estavam duas senhoras simplesmente vestidas, lencinho amarrado na cabeça e chinelos tipo havaiana, deixando à mostra grandes rachaduras nos calcanhares. Ficaram em apuros, quando o padre falou dos pés. Uma delas, olhando para sua vizinha, deixou escapar seu lamento:

— Nóis bem qui peleja, né, mais num tem jeito!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/12/2012
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