Diário de Sonhos - #020: Cristãos

Quando eu tinha 13 anos eu era cristão. Renan Flores, legítimo discípulo de Satanás, fui cristão. Frequentei a Brasil para Cristo. Não me arrependo. A primeira banda que eu toquei na minha vida foi o grupo de louvor da igreja. Os primeiros amigos que eu tive, com exceção da Tamara, que eu conheço desde os 11 anos, foram da igreja. Claro que o ambiente meio que forçava a isso. Se não fossem meus amigos não seriam boas ovelhas. E Deus gosta de ovelhas boas e obedientes, que escrevem Seu nome em maiúsculo (belo Babaca). Mas às vezes vinham me visitar, me convidavam pra passeios que eu nunca ía. Sim, aquelas ovelhas cegas eram minhas amigas e eu as amava. Muitos anos depois eu já não lembrava mais seus nomes ou seus rostos. Até hoje, quando sonhei com um deles. Quando acordei senti como se tivesse visto o pessoal da igreja semana passada.

Eu sonhei...

Sonhei que estava na garagem de minha casa, que está em reforma pra colocação de um portão novo. Na rua passou um homem que veio até mim. Me disse que seu nome era Eduardo e eu o reconheci como um dos irmãos da minha antiga igreja. Perguntou como eu estava, se eu ainda seguia o caminho de deus.

Agora estou num restaurante chique, estou sentado de frente para Eduardo. Ao seu lado está uma moça e ele a apresenta como sua esposa (essa moça na verdade era uma menina do ensino médio com quem eu nunca falei, na vida real essas duas pessoas não tinham nenhuma ligação). Ele pergunta novamente se estou no caminho de Deus. Com muita vergonha respondo que não sou mais cristão. Fujo de seu olhar, abaixo a cabeça e me sinto quente. Este é um ponto interessante do sonho, pois lembro com toda certeza que eu queria olhar pra ele bem fundo nos olhos e dar um sorriso sarcástico, mas meu corpo não obedecia e agia como se eu estivesse dizendo algo vergonhoso.

Estamos de volta à garagem de minha casa. Minha gatinha, Mel, roça na minha perna, miando. Peço pro Eduardo cuidar dela enquanto procuro comida. Alguns pedreiros estão sobre um andaime, consertando alguma coisa no teto. Perguntam se é pra rebocar e eu respondo que sim. Ando pela casa, procurando comida de gato e nada. Volto pra garagem. Onde antes havia um amplo espaço vazio agora está repleto de andaimes e tábuas de madeira em tudo quanto é canto. Eduardo fez um grande playground para o gato, com escadinhas, rampas e lugares pra pendurar. Alguns conhecidos conversam em grupos espalhados pela garagem. Sento no chão. Minha mãe sai de casa gritando:

- Renan, que bagunça é essa? Não sabe que o portão já vai chegar?

- Não mãe, já vou tirar. Eu só fiz um brinquedo pro gato.

Minha mãe volta pra dentro. Vou até um canteiro onde minha gatinha brinca entre as plantas. Um outro gato branco, o Bolão, aparece querendo comida (Bolão é o gato do vizinho que vem visitar a Mel e beber leite). Olho em volta e encontro uma lata de sardinha fechada. Abro. Bem, esta é uma parte do sonho meio bizarra. A imagem está fixa em minha mente, mas é meio difícil explicar. Vamos lá.

A lata é redonda. Há uma grande pasta marrom-acinzentada dentro. Este círculo está dividido em seis partes iguais. Três dessas partes têm uma protuberância que eu identifico como bocas de algum tipo de bicho. Sei que não devo por a mão ali pra não ser mordido. Resolvo passar o dedo numa das partes "seguras" e tirar um pouco da pasta pra dar pro gato comer. Agora é foda. Vamos ver... Erga a mão e coloque o dedo indicador apontando para cima (como se você fosse enfiar o dedo no nariz). Olhe para a unha. Imagine que esta unha se alarga, cobrindo toda a ponta do seu dedo indicador, como uma capa. Imaginou? Agora imagine que essa mesma unha cresce pra cima, como uma unha grande. Mas ela tem o centro oco, como se fosse um copo, mais especificamente uma taça. É essa a imagem: um dedo indicador apontando para o alto, com a unha longa, em forma de taça. A "comida" do gato está lá dentro desta "unha". A pasta fica bem escura e começa a se mexer. Entro em pânico porque sei o que significa: vermes. Pequenos vermes marrom escuro com forma de minhoca, dezenas de minúsculos vermes amontoados uns sobre os outros dentro da minha unha-taça. Minha mãe aparece trazendo algum tipo de veneno. Despejo-o dentro da unha. Os vermes morrem na hora e flutuam no veneno.

Aí eu acordei...

Até eu achei bizarro. Tentei descrever o que eu vi, mas é difícil. Uma imagem que eu jamais imaginaria consciente: uma unha em forma de taça cheia de vermes dentro. Eu juro que não estou tomando nenhum tipo de medicamento, droga ou coisa do tipo. Apenas fui dormir com muito sono ouvindo música instrumental.

Renan Gonçalves Flores
Enviado por Renan Gonçalves Flores em 16/12/2012
Código do texto: T4038157
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