"CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA"

A palavra tradição denomina o ato de transmitir, entregar, a que o Direito restringe à transmissão (ou entrega) de um bem móvel. Fora desse contexto, o termo volta à origem como transmissão de lendas, fatos, valores morais e espirituais ou práticas resultantes de transmissão oral, de geração a geração.

Em minha cidade há quase uma inversão na ordem do termo: a  tradição, que se reporta ao passado, na Brasília de apenas meio século espera o futuro. Exceto aquelas trazidas pelos que para aqui migraram e, pela mesma ordem natural, transmitem-nas aos brasilienses natos. Assim o Natal, para nós também, é tradição. E dele as confraternizações são meros atos que se repetem; desde as reuniões familiares às pequenas, médias e grandes empresas, como também em todas as esferas da Administração Pública.

Costumeiramente o hábito se firmou no calendário do órgão em que trabalho. Meses antes, equipes se mobilizam para promover esses eventos que, inicialmente, acontecem setorizados (cada seção, núcleo ou departamento, onde acontece o tal “amigo oculto”) e, posteriormente, numa data mais próxima ao dia 25 de dezembro, a confraternização geral que reúne todos os servidores. Precedida por celebrações religiosas (culto e missa), esses eventos têm acontecido com almoço ou jantar, em diferentes locais. Geralmente em clube ou numa dessas casas de eventos do Setor de Mansões Park Way.

A festa se destina à confraternização geral; mas nem a todos que a ela comparecem consegue unir. Os grupinhos sempre se reuniram e se sentaram conforme a “hierarquia” do escalonamento dos cargos ou funções que exercem. Veem-se as mesas dos procuradores, dos analistas, dos diretores, dos assessores, e, “na geral”, os “comuns”, sem quaisquer cargos ou funções de destaque. Porque se sentem inibidos, ou pela linha divisória dos olhares, eles também se agrupam. Eu sempre me incomodei com tudo isso a me parecer um baile de máscaras.


 
Não sei se feliz ou infelizmente, este ano integrei a equipe promotora da confraternização geral. Em pleno acordo com ela resolvemos inovar. Disponibilizamos as mesas de tal modo que a numeração aleatória, entregue na entrada, misturou todo mundo. Que delícia de jantar! Que noite democraticamente cristã e fraternalmente natalina!

Na hora dos discursos e agradecimentos, a equipe foi chamada lá na frente. Frio na barriga. A autoridade maior referiu-se ao detalhe da disponibilização dos lugares. Salva de palmas. “Tomara que continue assim daqui pra frente”, disse com entusiasmo. E, com microfone na mão, respondi em nome da equipe: assim vai virar tradição!
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* Pelas razões expostas, seria muito legtal mostrar as fotos.
   Pela descontração de todos, inoportuno.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 19/12/2012
Reeditado em 23/12/2012
Código do texto: T4044088
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