Aborto na China: sem limite de idade para participar

Antes eu achava que notícias ruins eram quase que exclusividade dos noticiários de fim tarde (Põe na tela!!!) mas, já que meus dias tem começado bem mais cedo do que eu gostaria, tenho notado que esses noticiários normalmente são só ecos das coisas que já apareceram bem mais cedo.

E hoje o dia não foi diferente, começando com a notícia de que uma chinesa (aliás, vale mencionar que a China consegue fornecer quase que diariamente notícias que desafiam a capacidade do ser humano de se espantar) foi obrigada a abortar o seu segundo filho já que não tinha o dinheiro para pagar a multa de 40.000 yuan (Equivalente a 13 mil reais) por infringir a lei do filho único que existe na China. Nada demais até ai (não sou contra o aborto) se não fosse por um detalhe: o feto (ou bebê) já tinha Sete meses.

Não sei precisar biologicamente quando um feto vira bebê, mas assumo que sete meses já é tempo suficiente para isso acontecer e ai me pergunto se, nesse caso em particular, aborto não é eufemismo para assassinato. Entendo que dada a situação demográfica do país – mais de 1 bilhão de habitantes – uma lei que controla o aumento populacional se torna bem útil, mas esse caso em particular mostra o quanto o país é retrógrado ao lidar com assuntos de direitos humanos.

Honestamente eu não tenho nenhuma restrição religiosa quanto ao aborto – é fácil para um padre falar sobre isso enquanto fica na sacristia bebendo vinho e fazendo coisas nada sagradas com coroinhas e não é violentado ou algo do tipo – mas, mesmo eu, acho que existem certas ressalvas e uma delas é quando a liberdade do ser humano é solapada de forma arbitraria e desumana. Nesse caso, acho que o crime maior não foi o aborto, mas sim a imposição disso contra a clara vontade dos pais que tentaram levantar o dinheiro da multa, a violação do corpo da mãe e dos seus direitos enquanto ser humano e outras várias implicações que poderiam ser ditas.

A China é um país com um enorme potencial e com grandes chances de superar os EUA em crescimento econômico e força política mundial, mas que ainda insiste em seguir na contramão no que tange a evolução cultural e humanitária, e exemplos disso não faltam como a quase total ausência de liberdade e os fuzilamentos onde a conta das balas gastas é enviada à família do executado. E é triste isso, um país com uma história e uma riqueza cultural imensa, mas que ainda vive fechado em seu mundinho, alheio ao que o circunda e resistente a mudanças que trariam o bem ao seu povo.

O grande dragão do oriente continua soprando suas chamas de barbárie sobre o povo que se encontra debaixo de suas asas, mas será que os pedidos de desculpas emitidos pelo governo local à vítima e à sua família e o afastamento dos imbecis responsáveis por esse ato são um sinal do nascimento de uma consciência na cabeça dura e arcaica dos governantes? Ou apenas uma forma de atenuar a vergonha que passaram perante o resto do mundo?

Seja lá o que for acontecer daqui por diante, talvez esse triste acontecimento seja um dos marcos no retorno a uma noção de humanidade que há muito o povo da China foi obrigado a abortar de seus corações por força de um governo arcaico e bárbaro.