No dia que a moça
chegou na casa
da fazenda
deitou numa rede
no alpendre na lateral
e nessa ausencia
de gente
sentiu o cheiro
que sempre
a tinha procurado.

Uma noite descubriu
que além do horizonte
verde do canavial
que avistava da casa

havia um povoado
menos verde
menos alto
que o cajueiro da
casa da fazenda.

Descobriu que
na capanga
cabia todo o dinheiro
da semana
do monte de canavieiros
era tudo em cruzeiros.

Em outros dias
só havia a casinha
de taipa e a Dona Etelvina
miudinha
era uma viagem por terra
para parlar
com a vezinha
que tinha duas redes
e os pés no chão batido
fumava ela o
cachimbo de esterco
à luz da lamparina
e era alí o mundo.

Pela porteira só
passava a moça
nos dias de festa
alí na estrada
era outra vida.

No dia em que sangraram
o pescoço da galinha
foi o dia da despedida
nunca mais voltou a moça
à casa da fazenda
e nunca mais 
desafiou a Lua,
a moça, protegida
pelos canaviais de açucar.




 
EUGÊNIA
Enviado por EUGÊNIA em 25/12/2012
Reeditado em 19/03/2014
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