Antes da leitura deste texto, é fundamental que vocês leiam a primeira parte narrando o drama de Zequinha, ansioso por saborear o peru natalino, no entanto a ave só foi servida tarde demais quando o garoto não resistiu e adormeceu no sofá.
Confiram a crônica “Será que vai ter peru pra todo mundo?”!

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No dia seguinte Zequinha acordou no sofá.
A mãe preferiu não incomodar o sono pesado do garoto.
Após se levantar percebeu que os parentes desconhecidos não estavam mais na casa.
Escovou os dentes, tomou um banho e resolveu pedir um pedaço de peru à mãe.
Dona Florinda sorriu e lhe deu um pratinho o qual ela carinhosamente havia guardado na geladeira.
Zequinha questionou um outro pratinho no cantinho.
A mãe explicou que era para o Tio Silva que não participou da ceia e ligou há pouco informando que faria uma visita à tarde.
Ela, sabendo da visita, dividiu o prato de Zequinha com o tio.
 
Logo que ouviu isso, Zequinha protestou:
_ Isso não é justo, mãe! Eu achei essa visita uma bos...!
A mãe, batendo no seu ombro, falou:
_ Não diga palavrão no Natal, filho! É feio!
“Se no Natal eu não posso dizer palavrão, vou guardar um bem cabeludo para falar amanhã!”, pensou o revoltado Zequinha.
A mãe também censurou a usura do menino, pedindo para ele ser mais solidário e compreensivo.
Zequinha quase não escutou o sermão.
Ele detestava o tio.
Além disso, que história é essa de dar parte do seu peru para o irmão dela?
Ele sentiu vontade de dizer outro palavrão, porém recordou que era Natal.
"No Natal não pode dizer palavrão! Mas amanhã...”
Zequinha começou a saborear o seu pratinho, procurou pedaços de peru, só conseguia perceber a salada saborosa e a farofa também deliciosa, mas, segundo o guloso menino, pouquíssimo peru.
Essa questionável constatação aumentou ainda mais a revolta do garoto.
Apesar disso, Zequinha foi obrigado a aceitar a situação.
Ele sabia que não seria nada bom levar uma surra no Natal.
A mãe dele, Dona Florinda, detestava ser contrariada.
 
Quando a mãe decidiu ir para o quarto ver televisão com o marido, o pai de Zequinha que curtia uma enorme ressaca, Zequinha teve um pensamento nada cristão e o colocou em prática imediatamente.
Ele pegou um vidro de Lacto-Purga que o pai às vezes usava e decidiu misturar um pouquinho no pratinho especial do Tio Silva.
“Aquele chato vai aprender uma coisa!”, pensou Zequinha.
Na hora de misturar, exagerou na dose, porém não ficou arrependido nem resolveu voltar atrás.
 
Tio Silva apareceu durante a tarde conforme prometeu e trouxe um presentinho para o sobrinho querido, Zequinha.
O menino sorridente agradeceu, entretanto ele, na verdade, sorria imaginando os efeitos provocados pelo peru especial que o chato do tio deveria provar.
Sentados na cozinha, Zequinha lanchava, com um ar inocente, observando seus pais conversando animadamente com Tio Silva.
Conversa vai, conversa vem, a mãe de Zequinha entregou o pratinho para que o irmão pudesse saborear.
Zequinha ficou ligadaço, aguardando a sua justa e implacável vingança terminar...
Nesse exato momento, lá fora a campainha tocou.

Quando verificaram, eram os mendigos do dia anterior persistindo no propósito de comer um pedaço de peru.
Dona Florinda quase disse um tremendo palavrão, no entanto logo recordou que era Natal.
"No Natal é feio dizer palavrão!"
Ela ameaçou sair para avisar ao casal de maltrapilhos que não tinha peru, porém Tio Silva a interrompeu e sugeriu dar o seu pratinho, pois ele já estava enjoado de tanto peru que comeu na noite anterior ao lado da esposa e dos filhos.
Dona Florinda e o marido relutaram, mas Tio Silva acabou convencendo os dois.
 
Dona Florinda pediu que Zequinha fosse entregar o prato aos mendigos.
Zequinha foi, disfarçando sua revolta e chateado com os mendigos os quais apareceram exatamente naquela hora.
“Como pode? Enjoado de tanto comer peru, vem atrapalhar a minha refeição e ainda escapa da minha vingança?”
“Por que esses babacas surgiram exatamente agora?”
No portão, Zequinha entregou o pratinho aos mendigos sem olhar para o rosto do casal.
Os mendigos emocionados agradeceram e saíram.
Zequinha foi para o seu quarto muito frustrado.

Os mendigos saíram felizes, Tio Silva foi caridoso, ele e os pais de Zequinha retomaram uma conversa animada na cozinha e Zequinha, prevendo a triste sorte intestinal dos mendigos, falou sozinho:
_Vocês sobraram! Vocês sobraram! Mais uma vez vocês sobraram!
_ Quem mandou aparecer na hora errada?
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 25/12/2012
Reeditado em 25/12/2012
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