Do silêncio

Muitas vezes, ao nos cercarmos de silêncio, acreditamos estar nos preservando quando, na verdade, estamos nos agredindo sem perceber.

Alimentamos nossos medos, angústias e dúvidas que, uma vez encarcerados, crescem e, por falta de espaço, passam à condição de predadores.

Quando o silêncio se torna o único som, atravessamos a linha divisória e nos perdemos na escuridão. Não podemos ver, não ousamos gritar. No escuro não podemos reconhecer nossos amigos e não queremos revelar nossa posição aos inimigos.

Vagamos sem direção aprendendo a camuflar a existência até começar a duvidar dela.

Percorremos quilômetros até que o cansaço nos rouba a capacidade de dar mais um passo e com os sentidos totalmente embotados, passamos a não dar importância a mais nada.

Pelo amor ou pela dor, assim as lições da vida são ensinadas, cabe a nós escolher como serão aprendidas.

Quem só se veste de silêncio perde a capacidade de ver.

Quem só se veste de silêncio perde a capacidade de sentir.

Quem só se veste de silêncio perde a oportunidade de perceber o amor universal contido no gesto de quem oferece apoio.

Quem só se veste de silêncio perde a oportunidade de ser uma pessoa melhor.

Todo ser humano nasce e morre só, mas é entre esses dois extremos que a vida realmente acontece e com outras vidas se entrelaçam, permitindo que amores se fortaleçam ou se desgastem, mas que sobretudo existam.