15 de junho de 2001- O guerreiro tomba combatendo o combate

O combatente foi combatido pela mão do bandido e pela negligência do Estado.

Manchete e notícias exaltam suas qualidades.

A sociedade perde um cidadão. (mais um, menos um, tanto faz...). O Governo perde um agente policial que será substituído em breve (fácil solução).

O guerreiro, hoje lembrado, passará a ser lembrança e logo cairá no esquecimento. Apenas um ou outro companheiro lembrar-se-á dele de quando em vez.

Mas, que reparo o Estado poderá fazer quanto ao homem e chefe de família que ele foi?

A sociedade terá outros cidadãos. A secretaria terá outros agentes policiais. Mas, o Arnaldo César que foi abatido no estrito cumprimento do dever, existirá apenas no coração daqueles que verdadeiramente o amaram. Somente a família enlutada sentirá sempre e pra ela , ninguém irá substituí-lo nunca.

Ao invés de dar a César o que é de César (proteção e condições de trabalho), deram-lhe a morte. E, como se não bastasse o Estado ainda tem por obrigação manter a integridade física dos assassinos. Essas amebas que instaladas nas vísceras da sociedade, sugam-lhe até o que há de mais precioso: A vida. E que ainda são sustentados por cada cidadão que paga seus impostos. Um paradoxo!

A sociedade por sua vez, apenas assiste. Tolhida, vê seus direitos se exaurindo (educação, saúde, segurança, moradia, trabalho...). Apenas seus deveres continuam fortes. Cada vez mais fortes.

Assim como fortalecidos estão os marginais que dentro em breve, como nada é feito, passarão a comandar a nação saindo do plano oficioso para o plano oficial.

Em quem confiar se aqueles que devem nos proteger também estão desprotegidos? E se nada for feito, ficaremos a mercê de quem?

Quantos mais terão de tombar para que se tome uma atitude?

Terão os policiais que imitarem muitos dos nossos governantes, sendo negligentes e omissos?É pra isso que elegemos nossos representantes? Para contribuírem com o aumento da orfandade?

Que dizer ao filho do guerreiro que na inocência dos seus poucos anos acariciava o rosto inerte do pai falando-lhe baixinho para não acordá-lo?

16 de junho de 2001 – A tarde chora a morte do guerreiro

Funeral pomposo, honras ao combatente. Mas pra que tudo isso? De que serve o herói morto?

O importante era ele, o filho, o irmão, o pai, o amigo. Porém, o homem vivo.

Poderá o Estado devolvê-lo aos seus entes queridos?

Não sei se chovia ou se a tarde chorava a morte do homem que se foi por cometer o erro de cumprir ordens e desempenhar suas funções profissionais.

Talvez, só a Natureza tenha entendido tal perda; pois ela chorou a morte do filho e como toda mãe, o acolheu no âmago de suas entranhas.

Quanta negligência!

Iranil J Azevedo
Enviado por Iranil J Azevedo em 28/12/2012
Reeditado em 16/04/2014
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