Tinha seu papel no teatro da vida. Fazer aquilo  que sabia fazer muito bem: HUMOR e POESIA. E recitava para si mesmo Guilherme de Almeida: A poesia purifica a alma... e um belo poema — ainda que de Deus se aparte— um belo poema sempre leva a Deus!

Com o humor não ocorre a mesma coisa. Pode levar a Deus ou ao Anjo Negro que  habita no abismo  das trevas.Depende do tempero, por isso em toda sua vida de humorista, jamais fez humor macabro. Não faltava com respeito às coisas sagradas, santas ou santificadas nem ousava tocar um ungido de Deus. A não ser uma piadinha leve, do tipo Zé Mingau, aquele matuto mineiro que chegou bêbado na igreja para batizar o filho.

— Como é o nome do menino – perguntou o padre, tendo na mão uma bacia com água benta.
— Zé Mingau...
— José Mingau? Batizo o menino com o nome de José. O mingau deixo que vocês mexam em casa. Os nomes trazem presságios, por isso a Santa Madre  Igreja recomenda que se batize com nome de santo: Pedro, Paulo, Norberto, etc...etc..
— Pois batize com o nome de Zé Américo. Esse pelo menos num é santo “mais” descobriu o Brasil. E cochichou no ouvido da mulher.

O chefe dos páde pode ser PAPA e meu filho que é pobre, não pode se chamar Zé Mingau? — Dêsse ser besta, Nastaço! Quem descobriu o Brasil foi Calombo, ou foi o prego “cabral”? Agora você fez confusão em minha cabeça!


O padre agradeceu a Deus por que naquela hora alguém pisou em seu calo seco e o riso foi sufocado pela dor. Prego caibral! Prego caibral não descobre nada, ajuda a cobrir a casa fixando ripas e caibros....

Entrou no boteco do português, ali mesmo numa esquina da Mariz e Barros, bebeu uma 51 e pagou outra a Nastaço que exibia o retrato amarelado de um menino bem corado e fornido.

— Esse é meu filho Zé Américo, o melhor jogador do Corinthians e contou a história do batizado do menino. Faz tanto tempo... Cá entre nós e laçada, tá tendo uma conversa que ele vai ser vendido pra França. Nunca pensei que meu filho um dia fosse vendido como escravo. Esse negócio de passe eu num intendo. Quando ele era menino e foi apanhado por quebranto, a mãe levou na benzedeira para dar uns passe. No outro dia, tava sãozinho.

Bebeu outra cachaça e cuspiu no chão, quase nos pés de Alberto.

Discuspe, foi sem querer?
Alberto apenas riu em silêncio. Como descuspir sem lavar os pés com água e sabão!?
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