O mar de dentro

É incrível como por dentro somos parecidos com o mar.

Quando o dia está perfeito o mar é calmo, seguro de si e convidativo. Sabe da sua força, mas não precisa se exibir e o que tem de feio e ruim fica no fundo, onde não afeta ninguém. Porém quando uma tempestade se aproxima ele mostra toda sua ira, joga na praia tudo que de ruim existe dentro dele, grita e bate para mostrar que é ele quem manda e acaba assustando e espantando as pessoas que um dia o admiraram e quiseram mergulhar em suas águas.

Ontem o mar estava assim, calmo, sereno, tanto que eu mergulhei ontem e fiquei ali dentro quieto, só deixando as águas me ninarem. Hoje porém o tempo mudou, o céu estava cinza, pesado e soprava um vento forte e frio. Isso mudou ele, o deixou inquieto, irritado, jogando sujeira na areia, praticamente dizendo para não me aproximar dele. E de fato, o mar que eu tanto admiro de repente se tornou estranho, sufocante, amedrontador e então me peguei pensando se era aquilo que ele realmente queria me dizer.

Será que sua intenção era assustar mesmo e afastar? Ou apenas queria companhia, atenção e não percebia que ao pedir por isso acabava assustando, distanciando?

E foi então que notei que todo mundo tem um mar dentro de si.

Quando a nossa vida é como queremos, com tudo andando do jeito que planejamos e estamos totalmente no controle dela e de todos que estão a nossa volta, por dentro estamos quietos, serenos e suaves. O clima perfeito para que qualquer pessoa queira ficar próximo da gente e se arrisque a mergulhar dentro dessa imensidão que nós somos. Mas basta uma mudança por menor que seja, algo que nos tire o chão, nos cause medo ou dúvida e pronto, ficamos revoltos, com ondas de medo, ansiedade, apreensão, angústia e de toda sorte de sentimento ruim que nos faz mal, mas mais que isso, podem afastar ou até mesmo afogar quem está próximo e tentando mergulhar dentro da gente. Jogamos o que há de pior em nós em cima de quem nos é mais importante. E quando o clima acalma, quando a vida retoma sua tranquilidade, corremos o risco de não termos mais ela.

Hoje eu entendi que tenho um mar dentro de mim, agitado, instável, inquieto, mas isso não é ruim, porque agora também sei que preciso aprender a controlá-lo, aceitar as mudanças de clima, o caminho das marés que nos colocam e tiram dos caminhos que escolhemos.

E mais que isso, aprender que se queremos que alguém mergulhe dentro de nossas vidas, temos que nos tornar um lugar seguro e convidativo, para que elas queiram mergulhar por vontade própria.

E uma vez dentro de nós, fiquem pelo tempo que lhes cabe ficar.