Histórias de Ônibus: Haja Paciência
Essa é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com fato real
é mera coincidência.
A gente sempre ouve aquele bordão da TV:
– pergunta idiota, tolerância zero!!!
Mas convencionemos uma coisa, pra trabalhar dentro de coletivos, dar quatro, seis, oito viagens por dia, há de se ter saco de Papai Noel pra vencer a jornada e se esforçar para não se lembrar do dia por vir.
Concordo que, às vezes, não dá tempo de formular uma pergunta antes de abordar um desavisado, mas não entendo como, imediatamente após a abordagem, o interpelado responde com um irreverente, sarcástico toma-lá-dá-cá... O riso é irreprimível e totalmente desculpável, apesar de ser inconveniente, tal situação o perdoa.
Por exemplo: A senhorita entra no coletivo, entre empurrões e cotoveladas consegue vencer os metros rasos entre a porta de entrada e a roleta onde o indivíduo uniformizado que recebe notas e devolve moedas fica postado. Pois bem, a distinta senhorita chega, acomoda-se na roleta como no sofá da ante-sala de um escritório de advocacia e, irritantemente, abre a bolsa, vasculha-a ligeiramente para encontrar a sua nécessaire, abre a dita e encontra um simpático porta-níqueis, aí vem a dramática pergunta; olhos nos olhos do sofredor, ar sério, uma multidão estacionada esperando a vez de passar pelo cobrador, ela diz:
– Quanto custa o ônibus, moço?
Ele do alto da cadeira – sempre altas – fecha a gaveta, olha o carro de alto a baixo, olha o fundo e o retrovisor interno, suspira e responde pacientemente:
– Uns 65 ou 70 mil, o carro tá meia boca, deve rodar uns anos ainda...
Por Paulo Siuves - 13/06/04