Intenções - Ações que Transformam o Dia
Flavia Costa

Hoje dois acontecimentos inusitados, na mesma avenida, marcaram o meu dia. A caminho do dentista, andando com um semblante sorridente, o vento soprou fazendo com que um fio dos meus cabelos incomodasse meu olho direito. Sentindo o desconforto, bem no momento em que passava por um homem de meia-idade, pisquei, o senhor olhou para mim e sorriu, balançando a cabeça em sinal positivo. E eu, sem conseguir me conter, achando graça da situação, sorri de volta e continuei caminhando, quase às gargalhadas. O que ele pensou, não faço ideia, mas certamente foi o contrário da minha intenção que, aliás, nem existiu, pelo menos não em relação a ele. Mas, sem dúvida, a situação divertiu a ele e a mim. Dois desconhecidos que se esbarraram e tiveram, por segundos, um momento de cumplicidade.

Logo depois, retornando do meu compromisso dentário, do lado contrário da mesma via, percebi, num ponto de ônibus, uma senhora cumprimentando algumas pessoas, após deixá-las, a senhora caminhou de encontro a mim. Com sombrinha em punho, camiseta tecido verde limão e chapéu com uma fita preta, a mulher me “atacou” com um abraço sorridente desejando Feliz Ano Novo e, entre outras coisas, que eu pudesse realizar todos os meus sonhos. Abracei a senhora, surpresa e encantada, desejando o mesmo a ela. Separamo-nos, ela seguiu seu caminho, certamente, abraçaria muitos outros que encontrasse pela frente, e eu segui o meu, com um sorriso nos lábios e com o pensamento que, sob o sol escaldante da metrópole, onde quase ninguém se conhece e, até mesmo os que se conhecem, não se percebem, ganhei o abraço afetuoso de uma desconhecida que deixou o meu dia mais feliz.

Num mesmo dia, caminhando pela rua, eu, sem intenção fiz alguém sorrir e sorri também, minutos depois, do lado oposto, alguém, intencionalmente, fez-me sorrir e sorriu também. Entre uma piscada sem intuito de conquistar e um abraço que me conquistou, ganhei o dia, gentileza que contagia.

Pensando nas felicitações da senhora e nos meus sonhos, gostaria que eles tivessem a sutileza de uma piscada que conquista, o semblante sempre feliz do momento que pisca, o sentimento de achar-se conquistável independente dos anos, e as gargalhadas de quem não teve a intenção, mas mesmo assim conquistou.

Quanto a mim, quem sabe, um dia, eu possa piscar para a minha timidez, conquistando a espontaneidade dos gestos e atitudes, podendo assim, intencionalmente, alegrar o dia de quem passa por mim na rua ou, até mesmo, dos meus vizinhos, os quais eu cumprimento somente se olham para mim ou me percebem. O importante é surpreender quando não se espera, faz toda diferença.

E, apesar de não saber muito sobre alegrar estranhos pelo caminho, acho que não deve ser necessário chapéu, sombrinha, blusa verde limão, abraços, nem olhos que piscam, um aceno de cabeça e um sorriso sincero já deve ser o suficiente. Mas, se não for, amanhã volto ao dentista, quem sabe possa encontrar, novamente, as duas pessoas que marcaram meu dia e aprender e colocar em prática a arte de irradiar, com um sorriso arrumado, certamente, ficará mais fácil. Que eu possa abraçar esta ação, sem piscar.