Particular Afeto

Acabei me afeiçoando ao abismo. Não pela queda, mas, pela oportunidade, obrigatoriedade de voo...

Revendo minha história, percebo que ele se apresentou logo cedo. Nem sei como terminei me acostumando com a sua sempre surpreendente companhia. Sim, porque ele aparece, quando menos espero, invariavelmente. Posso dizer que quase em todas as vezes, me descabelei... Pânico total! Caos! Fim de mundo! Aquele estardalhaço todo, até perceber que estava voando ainda mais alto, do que antes do susto.

Agora, aqui, na Bahia, parece que estou conseguindo me controlar mais. Porque percebi, que nunca fui abandonado. Sempre, até agora, acaba aparecendo uma saída, sempre inusitada, mas, progressivamente, ensolarada. Aprendi a confiar mais no universo, a partir do momento de estar seguro, quanto à minha contribuição para o mundo.

Como em tudo, neste aspecto também, o ofício vem cumprindo seu papel complicado de me lapidar. Como todos, tenho ainda, infelizmente, alguns reflexos condicionados. Aparecem no automático, involuntariamente. Produto detestável do gado, para padronizar os comportamentos.

Assim que os detecto, minha vontade é a de me deletar de vergonha de ter derrapado, na casca de banana em neon, bem à minha frente. Enfim, abro diálogo com todos os níveis de consciência. Consequentemente, estou exposto às ciladas previsíveis do estabelecido. Nem sempre consigo escapar.

E, olhem, que tomo o cuidado, ou melhor, a configuração que me aconteceu foi e é a de conviver o mínimo necessário, para a um só tempo, não me contaminar, por um lado, e para permanecer emanando, ao invés de recebendo, por outro. É complicado porque tenho que analisar rapidamente o que vou falar, para saber se é adequado, ou não. Se há abertura para um argumento mais trabalhadinho, ou não. Se devo me fazer de energúmeno, ou não!

Concluindo: do abismo, o que me interessa é o salto.

Música indicada:

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Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 04/01/2013
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