O cego viu tudo

Ser cronista é posicionar contra todos os modismos, às vezes homem às vezes lobisomem. Sempre me posicionei e dei minha cara a tapa. Às vezes atirado, às vezes atrevido, eu não tenho culpa, mesmo sem merecer as trombetas dos anjos alcançam os seus ouvidos.

As plantas de meus pés cresceram tanto, mas não o bastante para alcançar os meus prantos. Busquei o prefácio em várias faces, depois de levar uma surra de um vendaval dentro do curral encontrei o prefácio na face da terra, apoiado nos ombros do tempo, açoitado pelos ventos, cavalgando nos sentimentos de ver as pedras destruídas para construir calçadas.

Tenho certeza que nos anos vindouros essas palavras de ouro irão sobreviver e o criador universal inventou esta tal de crise global só para nos salvar; e o agricultor das palavras em sua lavra suada esqueceu-se que era somente um ator e passou a sofrer com as dores do seu personagem e foi somente por isso que foi atingido e açoitado pelos ventos cortantes que transformam palavras em diamantes.

Sou ser humano de sorte, pois alcancei aquela idade maravilhosa em que a gente vive lado a lado com a irmã morte, ela faz de conta que não vê, mas eu sei que qualquer dia ela vem me buscar, pois descobri que sou filho da terra. E neste mundão sem porteira uma verdade certeira: minha herança ninguém rouba, os meus sete palmos de terra.