As pessoas costumam dizer que eu preciso observar mais o lado bom das atitudes alheias, evitando assim julgamentos injustos ou conclusões precipitadas.
Me acusam de, sem verificar o motivo verdadeiro, avaliar mal o comportamento de alguém.
Por exemplo, se um conhecido passa e não fala comigo, logo eu imagino que não quis me cumprimentar, mas as pessoas dizem que ele pode não ter me enxergado.
Isso faz todo sentido, pois minha altura e o meu bigode são muito discretos!
 
Essa minha mania de julgar de forma equivocada as ações do próximo tem tudo a ver com o fato que vou narrar.
 
Eu estava saindo do meu prédio. O meu destino era a padaria.
Eu adoro tomar café saboreando um cacetinho (Ah! É tão gostoso!).
No térreo uma simpática senhora varria a área estreita com uma simples vassoura.
A cumprimentei e saí, pois o cacetinho não deveria esperar mais.
Quando retornei, notei, na entrada da parte externa do meu prédio, um pequeno “monte” de poeira acumulada.
Considerando que a simpática senhora não estava mais varrendo a área interna, deduzi que ela colocou ali o monte de poeira.
 
A visão do monte e a dedução causaram uma grande indignação, desenvolvendo uma certa revolta em relação ao ato estúpido e incoerente.
Já não achei mais a senhora simpática.
Quase subi, peguei minha “pá” usada para juntar poeira acompanhada de uma vassoura e desci para colocar a sujeira num saco.
Dessa forma, se a antipática senhora surgisse, eu poderia lhe dizer:
“Viu como se faz? Não custa nada juntar a sujeira e colocar num saco!”
"Viu que tal gesto não machuca?”
“Aprendeu, vaca?”
 
Mas, enquanto eu subia as escadas, logo recordei o que costumo o tempo todo ouvir.
“Ilmar, pode não ser bem o que você está pensando!”
“Verifique o real motivo da atitude antes de condenar a pessoa!”
Meio envergonhado, consegui deslumbrar toda a verdade.
O primeiro pensamento o qual apareceu na minha mente me entristeceu demais!
Se eu fosse católico, pediria a um padre, depois de me confessar, que recomendasse uma gigantesca penitência.
Fiquei e estou muito envergonhado!
 
Na verdade, a muito simpática senhora não quis se livrar da poeira perto do seu apartamento na área interna.
Ela não desejou tirar de dentro e colocar fora.
Ela não imaginou que era demais limpar a sujeira dos outros e apenas resolveu tirar a poeira de perto do AP dela.
Não! Ela não teve esse pensamento!
Como eu pude pensar uma coisa dessas?
Que monstro eu fui! Que alma insensível sou!
 
A nobre senhora nutre um anseio ecológico digno de nota!
Ela apenas desejou dividir com o vento a poeira que juntou.
É uma alma que adora acordar ouvindo os pássaros na sua janela, que conversa com as plantas, que compreende os animais, que sorri quando é picada por um inseto.
Ela, impregnada desse magnífico sentimento ecológico, desejou dividir com a natureza aquela poeira.
Ela só consegue sentir o vento lhe acariciando, portanto encontrou nessa atitude bonita uma forma de retribuir, dizendo ao vento:
“Ah! Querido vento! Aceite essa poeira, espalhe ao redor, porém receba assim o meu abraço carinhoso e o meu grito de reconhecimento profundo!”
Imagino que, no instante que acumulou a poeira, esperando tamanha interação com o bondoso vento, a dama deve ter deixado escapar uma lágrima...
 
Admito que, quando percebi sua real intenção, a emoção invadiu o meu âmago de uma forma fantástica.
Eu não crio cachorro, não possuo gato, não gosto de papagaio, também não coleciono cobras, nunca conversei com plantas, não evidencio essa intimidade ecológica que a magnânima senhora demonstrou!
Como pude pensar uma bobagem daquelas?
Ela só queria sentir e abraçar o vento!
Que lindo!
Provavelmente ela curte os filmes que mostram o famoso santo franciscano em comunhão profunda com a natureza.
Como eu pude imaginar que ela, tirando a poeira da parte interna e deixando solta na parte externa, estava sendo bastante mesquinha?
 
Talvez seja necessário eu me redimir!
Imaginei a possibilidade de convidá-la para assistir a um filme sobre São Francisco de Assis.
Parece uma boa idéia!
 
Agora, após esse episódio, estou tentando ser menos precipitado e muito mais compreensivo quando percebo poeiras no meu caminho ou atos aparentemente sujos numa primeira análise.
 
Tomara que um dia eu absorva a lição completa!

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Confira o meu acróstico “Jaque Bela”, destacando a deliciosa Jaqueline Faria e protestando contra o racismo o qual prevalece na TV!

http://www.recantodasletras.com.br/acrosticos/4066933
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 05/01/2013
Reeditado em 05/01/2013
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