Diretor (im)provável

Entrei numa peça teatral. O que me é estranho foi não ter enviado currículo algum, nem mesmo pedi indicações. Mas isso não despachou o roteiro colocado embaixo do tapete hoje de manhã. Fechei a porta com força, achando ser uma brincadeira de pleno mau gosto.

Sentei-me no sofá e zapeei os canais na tevê, o pensamento no envelope pardo à porta de minha casa. Um anúncio na tevê me fez lembrar que hoje é dia de faxina no hall.

Era uma desculpa ridícula para sair exasperada e sacar o papelote, mas ora, a privacidade nos permite momentos assim.

Abri a porta e me surpreendi com o envelope no mesmo lugar. Onde mais ele estaria nos meus três minutos de ausência? Quis afundar com a cabeça no batente. Ao invés disso, abri o papel pardo e comecei a folhear a resma, procurando qualquer coisa que justificasse aquela confusão.

Fechei a porta e sentei no sofá, os olhos vidrados na primeira página. Quase joguei as folhas ao chão quando li o primeiro parágrafo. Ele dizia exatamente o que eu tinha feito, desde o acordar até o momento em que fechei a porta, me recusando a pegar o envelope. Incrédula, não pude acreditar quando li a frase “passou pelo banheiro, mas decidiu não escovar os dentes, afinal, que vou fazer hoje?”. Peguei o envelope nas mãos para verificar se existia alguma explicação para aquilo e, do lado oposto ao remetente, o escrito apenas dizia: “Leia as páginas de acordo com os dias apenas antes de dormir, ao fim do mesmo. As consequências podem ser drásticas.”

Joguei a resma para longe e decidi dar um jeito naquilo só a noite.

Deitei-me na cama e analisei a condição de personagem em minha própria vida, com a vida escrita num roteiro idiota sem ao menos poder lê-lo.

Entre os devaneios de minha mente, – e alma – ofeguei. Minha vida agora era regida por um diretor que eu não tinha conhecimento, mas muitíssimo renomado. Alguém que sabia cada passo e cada pretensão minha. Alguém que veio para florir meus caminhos, ou simplesmente jogar sangue.

Fique de olho à sua porta. O Destino costuma bater poucas vezes. Basta abrir.

Lorena Trevisanuto
Enviado por Lorena Trevisanuto em 09/01/2013
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T4074865
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