As Três Meninas



 

 
A Academia Lavrense de Letras só não morre porque é formada por imortais. Assim é que de vez em quando hiberna de tal jeito que chego a pensar: dessa vez acabou de vez. Então aparece um entusiasta que toma as rédeas e tenta fazê-la retomar a caminhada. Ela está passando por um momento desses. Dessa vez quem tomou a frente foi a Terezinha e o Fred e por incrível que pareça, as reuniões estão ótimas e pelo jeito  vamos dar uma boa arrancada.

Como muitos imortais fizeram a desfaçatez de morrer nos últimos tempos, estamos tentando renová-la e parece que teremos sucesso. Conseguimos uma Sala para Reuniões na Casa da Cultura e o último encontro, em dezembro, foi realmente ótimo. Trouxemos comidas e bebidas e a sessão se destacou pela informalidade. Nós, as meninas, montamos uma bela mesa no centro da sala e os meninos se regalaram.

Ah, as meninas.... Pois é, é assim que somos chamadas, as meninas. E isso realmente é ótimo. Atuantes, somos três. Eu, Terezinha, mais conhecida como They de Louré, autora de livros infantis e policiais (é a nossa Agatha Christie) e Ângela.

 Ângela é sonetista de mão cheia. Fácil de comprovar pois ela escreve para o Recanto das Letras. Também tem livros publicados. É uma mulher a frente de seu tempo. Corajosa, valente, bonita e engraçada. Faz cada coisa que deixa muita gente de queixo caído. É, sem dúvida, senhora de seu destino.
Na última reunião me contou uma história, que depois ela mesma tornou pública, em minha opinião de estarrecer. Seria trágica, se não fosse cômica. Ângela casou –se bem jovem com um rapaz muito bonito e viveram longos anos juntos. Tiveram duas filhas tão bonitas quanto os pais. Engenheiro, o rapaz sempre trabalhou em grandes obras e os dois correram mundo.Depois de certo tempo fixaram-se em nossa cidade. Um belo dia ele vai viajar a trabalho e ela fica. Em outro belo dia ele volta e diz que quer separar-se. Ela nunca disse que não sofreu, mas não se desesperou. Cantarolou até a exaustão: “A vida tem sons que pra gente ouvir precisa aprender a começar de novo”.. E ela aprendeu. Reconstruiu a vida. Casou-se outra vez, mas continuou unida ao marido por pendências legais.

O que ela me contou foi o seguinte. Decidida a regularizar todas as pendências com o ex – marido, os dois deveriam comparecer com seus advogados junto ao juiz. Assim ela fez: foi com seu marido e ficaram assentados em uma grande sala (imaginei ser o saguão do Fórum). Enquanto aguardavam a vez de serem chamados, seu marido chamou-lhe a atenção para um homem que conversava com o advogado dela. Perguntou-lhe quem era e ela não soube responder. Disse que poderia ser o advogado dele, o ex. O marido retrucou que advogados não vão para audiências mal vestidos, sem paletó e gravata. Ah, é qualquer pessoa, disse ela, nem todos que estão aqui são advogados. Mas como o papo entre os dois continuava, ela resolveu se aproximar de seu advogado para perguntar qualquer coisa. Chegando lá foi cumprimentada pelo tal homem mal vestido e sem paletó e perguntando o que tinha de perguntar voltou para junto do marido e só ao aproximar-se dele atinou com o disparate inusitado: meu Deus, é ele, o meu ex-marido!

Para concluir ela disse que ficou tão aturdida que praticamente aceitou favorecer o ex em tudo o que ele reclamava. Nunca imaginou que o homem pelo qual tinha sido apaixonada e dedicada se transformasse em um desconhecido literalmente. Evidente que nós as meninas achamos muito engraçado e daí para frente tudo se transformou em motivo de riso bobo, que é o que as meninas fazem quando têm seus segredinhos. Já os meninos não gostaram nem um pouquinho de saber que mulheres poderosas são mais comuns do que se pensa.