Mais que um guri, um guru

O guri saiu de casa como quem sai do caixão. Não digo que parecia um defunto, mas que já o era há muito tempo. Não notava. Calçava alpercatas de marca e moda ao pregar o fim do capitalismo pelo seu "smartphone".

O guri ganhou as ruas como quem ganha o torneio interclasse de bola de gude. Bolita. Seus ideais estavam mais difundidos que rima rica em sertanejo universitário. E assim, ele se tornou aquilo que qualquer um gostaria de ser, mas não conseguiria ao menos desejar ser. Bebeu sua coca-cola -em caixa baixa- e jogou a lata na lixeira de VIDRARIAS -em caixa alta.

O guri foi revolucionário como quem muda paradigmas da cultura em plutão. Marcou época, só não lhe pergunte qual. Ele vibrou suas conquistas ímpares e subiu aos céus conforme seu ego inflava. Seguidores tinha mil vezes zero. E foi seguido cada vez mais. Mais. E por ninguém.

O guri voltou à estaca zero como quem morre. Novamente em casa, pensou em sair de novo. Ou sair, só. Mas desligou-se, dormiu. E morreu. Morreu como a estrela que mais brilha. Estrela daquela ilusão, sem passar disso. Foi rei de sua reminiscência, enquanto foi súdito de sua hipocrisia.

O guri morreu em seu quarto.

O guri nem existiu.

O guri cresceu. Virou pai. Aceitou. Viu a realidade e desistiu. Desistiu. O guri foi como os outros. Mais que um guri, um guru.