RETRATO DA ZONA RURAL- A FAMÍLIA CESÁRIO

RETRATO DA ZONA RURAL: A FAMÍLIA CESÁRIO


 
 
Corria o final da década de 30. Em uma zona rural do município de Mercês (MG) morava a família Cesário. O casal Ermindo Cesário da Silva e Maria do Carmo da Silva ficara sabendo, através de amigos, que em um lugar não muito longe, chamado Calambau, existia uma terra boa para culturas e não faltava serviço na zona rural. Um morador de Mercês que havia se mudado para lá, o Sr. Virgílio Dutra, depois de um certo tempo, voltando a Mercês, trouxe a boa nova.
O Sr. Ermindo, quando soube da notícia, logo procurou  o Sr. Virgílio e lhe pediu que  arranjasse,  em Calambau,  um lugar para a sua família morar e trabalhar. Pediu-lhe, também,  quatro burros de tropa para levar a sua mudança e a família.
O Sr.Virgílio Dutra, voltando a Calambau,  conseguiu o local para a família do Sr.Ermindo morar.  Depois de tudo planejado, chegou o dia da mudança. O Sr.Ermindo vendeu a cabrita com dois cabritinhos, as galinhas, dois leitões, uma égua já velha, e alguns móveis e utensílios. Com o dinheiro  pagaria  o aluguel dos burros e ainda sobrariam alguns trocados para iniciar a sua vida na nova terra.
A ¨"tralha" que sobrou foi arrumada em balaios que seriam transportados pelos burros. Um dos burros, com dois balaios,  transportaria  os meninos mais novos. Eram quatro, abaixo de cinco anos. Os outros cinco iriam à pé com os pais. O balaio com quatro meninos tinha do outro lado, como contrapeso, outro balaio com algumas pedras. Gastaram três dias na viagem. Passaram  por Silveirânea, Dores do Turvo, Brás Pires até chegarem em Calambau. O tropeiro sabia dos pontos das pousadas, pois naquele tempo as tropas de Calambau frequentavam muito a cidade de Mercês ( antigamente chamada Mercês do Pomba, pois o Rio Pomba banha o município). O motivo da frequência de nossas tropas a  Mercês é que lá chegavam as mercadorias nos trens da Estrada de Ferro Leopoldina, vindos do Rio de Janeiro. Seria o antigo ramal de Piranga que lá não chegou, segundo dizem, por motivos políticos.
Chegando a Calambau, os nossos "migrantes" foram morar na zona rural das Três Barras, quase divisa com Porto Firme. Moraram, inicialmente,  na fazenda do Sr.Chico Galvão (um senhor de Viçosa) e depois na Fazenda de Crescêncio Fernandes de Souza. Depois de um certo tempo,  o Sr Ermindo,  frequentando a  missa, em Calambau, ficou conhecendo o fazendeiro José Maria Carneiro, que morava na fazenda Seringa. Em  conversa, ficou sabendo que o Sr. José Maria estava à procura de famílias para morarem em sua fazenda, pois precisava de mão de obra para trabalhar na sua lavoura de café que estava sendo implantada.
A família do Sr. Ermindo foi para  Seringa. A viagem, desta vez, foi mais fácil, pois Três Barras não ficava longe. Foram de carro de boi até a margem do rio Piranga e de lá atravessaram o rio em uma balsa que transportava até carro de boi.
Para os filhos do Sr.Ermindo  a nova morada foi uma festa, pois a casa ficava ao lado de uma linda cachoeira. Além disso,  o Zé Cesário, filho do Sr.Ermindo,  encontrou três rapazes filhos do fazendeiro:  Zé Carneiro,  Ladinho Carneiro e  Zizinho Carneiro, que tinham mais ou menos a sua idade. Os outros meninos mais novos eram o Ninico e o Quinquim. As seis filhas do casal também  encontraram na fazenda  uma  “penca" de moças, filhas do Sô Juquinha (apelido do Sr.José Maria) e da dona Sinhá, sua esposa. As filhas dos fazendeiros eram: Lurdinha, Nininha, Rosarinha, Mariinha (mais tarde Irmã Esperança), Carminha, Cormaria, Terezinha e Dores.
O Zé Cesário por ser um rapazinho, juntamente com o seu pai,  já pegava "no batente."
        Formou-se  uma grande amizade entre os Cesário e os rapazes da fazenda. Estavam sempre juntos, nadando no rio Piranga que passava em frente à fazenda, pescando, caçando e frequentando os forrós nos casamentos e batizados da região.
O tempo foi passando, os rapazes crescendo e a família  Cesário sempre trabalhando e com boa convivência com o pessoal da fazenda. Os rapazes trabalhando no campo. Nessa  época,  além do Zé Cesário, os seus irmãos João e Antônio também já estavam na labuta. As filhas,  também,  já trabalhavam na fazenda, principalmente a Geralda, mais tarde,  Dona Geralda, cozinheira que ao lado da Maria Holanda (antiga cozinheira da fazenda) e sob  supervisão da Vovó Sinhá tornou-se, também,  exímia no ofício.
O casal, quando saiu  de Mercês,  trouxe cinco filhos .Um ficou por lá e  veio visitar   a família apenas uma vez. Aqui nasceram mais oito filhos.
Nas festas da redondeza,  Zé Cesário era o grande animador.  Além de "pegar porfia" quando achava um que o desafiasse,  gostava,  também,  de cantar as cantigas da época nos bailes das festas. Cesário se gabava de  ensinar muito sanfoneiro a tocar, já que havia sempre uma sanfona   acompanhando  suas cantorias. Gostava muito de cantar um enorme desafio que começava  assim: " Eu fui chamado pra cantar com Jeremias. Cantei sexta, cantei sábado e domingo até meio dia. E quando foi segunda feira perguntei se ainda queria..."
Como dizia o Zé Cesário:" os filhos (homens) do Sô Juquinha foram casando e se mudando da fazenda. No fim, só sobrou o Quinquim. O Zé Carneiro,  casado com a Cici da Dona Augusta,  foi morar no Baía, lá pras bandas de Piranga. O Zizinho, casado com a Zizinha do Juca Braz,  foi morar na Boa Esperança , lá pras bandas de Porto Firme. O Ladinho,  casado com a Rita Magalhães, de Piranga, foi morar em uma fazenda bem perto da Fazenda Seringa. O Ninico,  casou-se com a Glorinha do Zé Borges e  foi morar na Granja Sta. Terezinha, também  perto da Seringa. Depois, mudou-se  para Calambau, onde  foi mexer com política e  chegou a ser prefeito por três vezes. O Quinquim,  depois de  certo tempo, casou-se com a dona Tinita, também de Piranga,  e foi morar na Granja Sta.Terezinha, onde antes morava  o Ninico. As moças, filhas do Sô Juquinha,  foram estudar fora, em Viçosa e Piranga.  para serem professoras.”
Continuando o Zé Cesário: "Os nossos pais faleceram, alguns irmãos também. Outros se casaram, só ficando na nossa casa  minha irmã Efigênia e eu.
Com o tempo, os donos da fazenda foram envelhecendo e resolveram se mudar para Calambau, onde tinham uma casa. Como decidiram fazer a doação dos terrenos aos seus filhos, a parte onde ficava a nossa casa, saiu para a Carminha, que morava em Piranga. Na casa que foi de meus pais, como já disse, morávamos  minha irmã e eu. Era uma verdadeira chácara, pois o Sô Juquinha, quando fazia uma casa para um empreiteiro, a  cercava  de uma boa área de terras, onde  poderia ter horta, pomar, e, também,  plantar milho, feijão, cana , mandioca, e ter um bom terreiro."
Ainda o Zé Cesário: "O terreno que saiu para a Carminha, em 1985,  foi adquirido pelo seu sobrinho Murilo, filho de Zé Carneiro. Como eu já estava aposentado, não cheguei a trabalhar com ele. O Murilo construiu uma casinha para  a Efigênia e eu morarmos, porque a que pertencia ao meu pai  já estava  muito velha. Depois de um certo tempo, Efigênia e eu fomos morar no Asilo em Calambau."
Dos catorze filhos de do Sr. Ermindo e da Dona Maria restam apenas quatro. O Zé Cesário faleceu em agosto deste ano (2.012). A Efigênia continua morando no asilo, onde é muito bem tratada.
Eis o retrato da vida de uma família, dentre muitas que vieram morar em Calambau e que contribuíram para o desenvolvimento de nossa comunidade, principalmente, na zona rural.
*******
    Murilo Vidigal Carneiro
    Dezembro 2012


Corria o final da década de 30. Em uma zona rural do município de Mercês (MG)
morava a família Cesário. O casal Ermindo Cesário da Silva e Maria do Carmo da Silva ficara sabendo, através de amigos, que em um lugar não muito longe, chamado Calambau, existia uma terra boa para culturas e não faltava serviço na zona rural. Um morador de Mercês que havia se mudado para lá, o Sr. Virgílio Dutra, depois de um certo tempo, voltando a Mercês, trouxe a boa nova. O Sr. Ermindo, quando soube da notícia, logo procurou o Sr. Virgílio e lhe pediu que arranjasse, em Calambau, um lugar para a sua família morar e trabalhar. Pediu-lhe, também, quatro burros de tropa para levar a sua mudança e a família. O Sr.Virgílio Dutra, voltando a Calambau, conseguiu o local para a família do Sr.Ermindo morar. chegou o dia da mudança. O Sr.Ermindo vendeu a cabrita com dois cabritinhos, as galinhas, dois leitões, uma égua já velha, e alguns móveis e utensílios. Com o dinheiro pagaria o aluguel dos burros e ainda sobrariam alguns trocados para iniciar a sua vida na nova Depois de tudo planejado, A ¨"tralha" que sobrou foi arrumada em balaios que seriam transportados pelos burros. Um dos burros, com dois balaios, transportaria cinco anos. Os outros cinco iriam à pé com os pais. O balaio com quatro meninos tinha do outro lado, como contrapeso, outro balaio com algumas pedras. Gastaram três dias na viagem. Passaram por Silveirânea, Dores do Turvo, Brás Pires até chegarem em os meninos mais novos. Eram quatro, abaixo de Calambau. O tropeiro sabia dos pontos das pousadas, pois naquele tempo as tropas de Calambau frequentavam muito a cidade de Mercês ( antigamente chamada Mercês do Pomba, pois o Rio Pomba banha o município). O motivo da frequência de nossas tropas a Mercês é que lá chegavam as mercadorias nos trens da Estrada de Ferro Leopoldina, vindos do Rio de Janeiro. Seria o antigo ramal de Piranga que lá não chegou, segundo dizem, por motivos políticos. Chegando a Calambau, os nossos "migrantes" foram morar na zona rural das Três Barras, quase divisa com Porto Firme. Moraram, inicialmente, na fazenda do Sr.Chico Galvão (um senhor de Viçosa) e depois na Fazenda de Crescêncio Fernandes de Souza. Depois de um certo tempo, o Sr Ermindo, frequentando a missa, em Calambau, ficou conhecendo o fazendeiro José Maria Carneiro, que morava na fazenda Seringa. Em sabendo que o Sr. José Maria estava à procura de famílias para morarem em sua fazenda, pois precisava de mão de obra para trabalhar na sua lavoura de café que estava sendo implantada. A família do Sr. Ermindo foi para Seringa. A viagem, desta vez, foi mais fácil, pois Três Barras não ficava longe. Foram de carro de boi até a margem do rio Piranga e de lá atravessaram o rio em uma balsa que transportava até carro de boi. Para os filhos do Sr.Ermindo a nova morada foi uma festa, pois a casa ficava ao lado de uma linda cachoeira. Além disso, o Zé Cesário, filho do Sr.Ermindo, encontrou três rapazes filhos do fazendeiro: Zé Carneiro, Ladinho Carneiro e Zizinho Carneiro, que tinham mais ou menos a sua idade. Os outros meninos mais novos eram o Ninico e o Quinquim. As seis filhas do casal também conversa, ficou encontraram na fazenda Juquinha (apelido do Sr.José Maria) e da dona Sinhá, sua esposa. As filhas dos fazendeiros eram: Lurdinha, Nininha, Rosarinha, Mariinha (mais tarde Irmã Esperança), Carminha, Cormaria, Terezinha e Dores. O Zé Cesário por ser um rapazinho, juntamente com o seu pai, já pegava "no batente." uma “penca" de moças, filhas do Sô Formou-se uma grande amizade entre os Cesário e os rapazes da fazenda. Estavam sempre juntos, nadando no rio Piranga que passava em frente à fazenda, pescando, caçando e frequentando os forrós nos casamentos e batizados da região. O tempo foi passando, os rapazes crescendo e a família Cesário sempre trabalhando e com boa convivência com o pessoal da fazenda. Os rapazes trabalhando no campo. Nessa além do Zé Cesário, os seus irmãos João e Antônio também já estavam na labuta. As filhas, também, já trabalhavam na fazenda, principalmente a Geralda, mais tarde, que ao lado da Maria Holanda (antiga cozinheira da fazenda) e sob supervisão da Vovó Sinhá tornou-se, também, exímia no ofício. O casal, quando saiu de Mercês, trouxe cinco filhos .Um ficou por lá e nasceram mais oito filhos. Nas festas da redondeza, Zé Cesário era o grande animador. Além de "pegar porfia" quando achava um que o desafiasse, gostava, também, de cantar as cantigas da época nos bailes das festas. Cesário se gabava de ensinar muito sanfoneiro a tocar, já que havia sempre uma sanfona Gostava muito de cantar um enorme desafio que começava época, Dona Geralda, cozinheira veio visitar a família apenas uma vez. Aqui acompanhando suas cantorias. assim: " Eu fui chamado pra cantar com Jeremias. Cantei sexta, cantei sábado e domingo até meio dia. E quando foi segunda feira perguntei se ainda queria..." Como dizia o Zé Cesário:" os filhos (homens) do Sô Juquinha foram casando e se mudando da fazenda. No fim, só sobrou o Quinquim. O Zé Carneiro, casado com a Cici da Dona Augusta, foi morar no Baía, lá pras bandas de Piranga. O Zizinho, casado com a Zizinha do Juca Braz, foi morar na Boa Esperança , lá pras bandas de Porto Firme. O Ladinho, Piranga, foi morar em uma fazenda bem perto da Fazenda Seringa. O Ninico, casou-se com a Glorinha do Zé Borges e foi morar na Granja Sta. Terezinha, também perto da Seringa. Depois, mudou- se para Calambau, onde foi mexer com política e chegou a ser prefeito por três vezes. O Quinquim, depois de certo tempo, casou- se com a dona Tinita, também de Piranga, e foi morar na Granja Sta.Terezinha, onde antes morava o Ninico. As moças, filhas do Sô Juquinha, foram estudar fora, em Viçosa e Piranga. para serem professoras.” Continuando o Zé Cesário: "Os nossos pais faleceram, alguns irmãos também. Outros se casaram, só ficando na nossa casa minha irmã Efigênia e eu. Com o tempo, os donos da fazenda foram envelhecendo e resolveram se mudar para Calambau, onde tinham uma casa. Como decidiram fazer a doação dos terrenos aos seus filhos, a parte onde ficava a nossa casa, saiu para a Carminha, que morava em Piranga. Na casa que foi de meus pais, como já disse, morávamos minha irmã e eu. Era uma verdadeira chácara, pois o Sô Juquinha, quando fazia uma casa para um empreiteiro, a casado com a Rita Magalhães, de cercava de uma boa área de terras, onde poderia ter horta, pomar, e, também, plantar milho, feijão, cana , mandioca, e ter um bom Ainda o Zé Cesário: "O terreno que saiu para a Carminha, em 1985, foi adquirido pelo seu sobrinho Murilo, filho de Zé Carneiro. Como eu já estava aposentado, não cheguei a trabalhar com ele. O Murilo construiu uma casinha para a Efigênia e eu morarmos, porque a que pertencia ao meu pai já estava muito velha. Depois de um certo tempo, Efigênia e eu fomos morar no Asilo em Calambau." Dos catorze filhos de do Sr. Ermindo e da Dona Maria restam apenas quatro. O Zé Cesário faleceu em agosto deste ano (2.012). A Efigênia continua morando no asilo, onde é muito bem tratada. Eis o retrato da vida de uma família, dentre muitas que vieram morar em Calambau e que contribuíram para o desenvolvimento de nossa comunidade, principalmente, na zona rural. ******* • 

                                                                                 xxxxxxxxxx

Quero com  esta crônica homenagear aos migrantes que vieram com as suas famílias para Calambau, principalmente a partir da década de 30. Alguns vieram a procura do trabalho braçal, outros vieram após adquirirem aqui sítios ou fazendas. Todos contribuiram para o desenvolvimento de nossa terra e os seus descendentes, hoje filhos da terra, continuam com  essa contribuição. A origem dessas famílias foi principalmente: Capela Nova, Cipotânea, Mercês e Alto Rio Doce, dentre outras.
murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 10/01/2013
Reeditado em 11/01/2013
Código do texto: T4077779
Classificação de conteúdo: seguro