Sou Homoafetivo e Homofóbico

SOU HOMOAFETIVO E HOMOFÓBICO

Jorge Linhaça

Vocês devem estar pensando: “O Linhaça pirou de vez, saiu da casinha, está fora do cabo, chanfrou-se...” Ou algo parecido com isso.

Na verdade esses termos sempre me causaram uma certa indisposição pois os compreendo de forma diferente da que rege o senso comum. Desculpem, mas não tenho a menor vocação para papagaio e gosto de compreender a formação de certas palavras.

Nada contra os neologismos, no entanto, quando se modifica o sentido de um prefixo para representar algo que não é sua característica original, cria-se uma certa confusão nas cabeças pensantes.

Senão, vejamos: A palavra Homo, assim em maiúsculas, refere-se ao gênero humano e seus assemelhados. Todos nós somos Homo sapiens, segundo Carlos Lineu.

Antropologicamente falando houve outros Homos... Homo de Naenderthal e o Homo erectus... por exemplo.

Já a palavra homo, assim em minúsculas, é um prefixo que indica igualdade.

Daí para homossexualismo ou homoerotismo, termos que muitos detestam, encontra-se uma certa lógica. Homossexualismo ( sexo entre iguais) Homoerotismo ( erotismo entre iguais).

A deturpação vem no homoafetivo e no homofóbico.

Afeição entre os iguais e medo dos iguais, respectivamente.

Ou, Afeição entre homens e medo de homens...

Não há logica linguística nesses termos em relação ao contexto com que são empregados.

Vejamos a origem dos termos:

Homofobia:

A palavra homofobia (homo=igual e fobia=”medo”) é usada para identificar o ódio, aversão ou discriminação de uma pessoa contra homossexuais.

O termo é um neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, numa obra impressa, combinando a palavra grega phobos ("fobia"), com o prefixo homo-, como remissão à palavra "homossexual".

Homoafetividade

A relação entre homossexuais ganhou um novo vocábulo, criado pela desembargadora e jurista Maria Berenice Dias, que defende que o afeto é o fator mais relevante na atração que uma pessoa sente pelo mesmo sexo. Segundo a Desembargadora, a homoafetividade vai além da relação sexual, é, um vínculo criado pela afetividade, pelo carinho e pelo desejo de estar com o outro em uma convivência harmônica.

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Com todo o respeito aos ilustres psicólogo e desembargadora, e por mais boa intenção que lhes seja atribuída, por maior que seja o neologismo, eu sinto-me integrado nessas duas classificações, embora não sinta atração erótica por pessoas do mesmo sexo e nem tenha medo de quem é LGBT.

Sou homoafetivo:

Porque sinto afeto, amor, carinho por meus parentes e amigos do sexo masculino. Eu e milhões de outras pessoas, com certeza... O mesmo se aplica às mulheres que nutrem afeição não sexual por pessoas do mesmo sexo.

Por outro lado sou homofóbico:

Porque o ser humano, ou meus semelhantes me causam medo, repulsa e mesmo ódio quando seus atos agridem a sociedade, seja através da violência física, emocional, manipulação através da mídia, corrupção ou na mania de levar vantagem em tudo.

A opção de sexualidade de cada um, conquanto não me afete diretamente, é um problema de cada um... Minha atração é por mulheres, tenho amigos que tem atração por homens, e isso em nada os desmerece enquanto seres humanos.

No aspecto religioso a coisa pode ser vista de modo diferente, no entanto o ser humano recebeu o livre arbítrio para fazer suas escolhas.

Não é admissível que uma pessoa seja proibida de frequentar qualquer culto por conta de sua opção sexual, daí a exercer cargos de liderança, são outros quinhentos, aí estamos lidando com dogmas e não tenho a menor intenção de discuti-los neste texto.

A única alusão que farei é a das palavras de Cristo “ Amai ao teu próximo como a ti mesmo” . Não existe nenhum ”mas” nesse mandamento, não existe nenhum...”desde que ele seja igual a ti”.

Já passou da hora de pararmos de ser papagaios repetidores de frases que não compreendemos ou sobre as quais não refletimos. Chega de seguir o lero-lero que a televisão nos empurra goela abaixo, está na hora do ser humano ser realmente humanizado, livrar-se do ranço dos preconceitos, aprender a conviver com as diferenças e dar um pouco de si para o bem estar dos demais.

Posso ser um tolo por defender esta minha visão, ou não. Depende de quem me ler.

Mas seria mais tolo ainda se não usasse esta ferramenta que Deus me deu, a escrita, para compartilhar aquilo em que acredito.

Salvador, 11 de janeiro de 2013.