O SEGREDO DAS CORDAS




                    O que tem de tão especial uma corda? Nada. Absolutamente nada. É o que responderia noventa por cento das pessoas a quem se perguntasse. Afinal, existem milhares de tipos de cordas. Uma a mais ou a menos nada tem de importante.
                    Porém não é bem assim. Cada corda tem sua peculiaridade e é em muitas vezes especial. Com cordas ceifam-se ou salvam-se vidas. Com cordas faz-se e puxam-se redes com as quais se pescam peixes para alimentar muitos homens.
                Com as cordas de um violão, por exemplo, embalam-se vidas de bebês e de homens barbados. Ao som das cordas de um pinho fazemos serenatas, transmitimos amor; ensejamos harmonia; traduzimos poemas em canções e vice versa. Criamos sons que acalentam os ouvidos e acariciam os nossos corações profundamente. Acalmam os nossos espíritos.
                    Ah! Mas que triste lembrança. Grandes personalidades suicidaram-se fazendo uso de cordas para os seus próprios enforcamentos. Outros foram barbaramente assassinados (enforcados) com cordas. No Brasil principalmente, o mineiro Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes) foi uma dessas vítimas das cordas, infelizmente.
                    Hoje em dia nem tanto, mas há uns cinqüenta anos atrás o que seria de um vaqueiro sem os seus laços feito com cordas?
                           Eu, um modesto escrevinhador, nada disso estaria escrevendo não fosse a forte influência das cordas em minha vida. Desde a mais tenra idade fiz e até hoje faço uso das cordas para sobreviver.
                      Quando aos sete anos de idade, na Praia Grande em São Sebastião, eu ia para a beira do mar enrolar as cordas das redes (cabos) quando os pescadores estavam chegando à praia. Para essa tarefa eu recebia em pagamento alguns peixes que os vendia ou levava para casa para consumo próprio.
                    Com cordas de Nylon eu fazia as minhas violinhas de madeira para aprender tocar, até o dia em que o meu irmão mais velho me deu um cavaquinho de presente. Dali em diante as cordas tornaram-se imprescindíveis nesta minha existência. Eu levava o meu cavaquinho para todos os cantos onde ia. Tocava aquele instrumento todo instante que me surgia uma oportunidade. Muitas vezes eu dormia com o cavaquinho na minha cabeceira.
                    E, para a nossa alegria era influenciado na época pelo som do cavaquinho daquele que foi o seu percussor, maior compositor e intérprete WALDIR AZEVEDO, que estava no auge, nos trazendo através das emissoras de rádio aquele inconfundível som lindo e maravilhoso. Melhor do que isso é que o Waldir Azevedo nos legou sua arte e nós ainda curtimos e curtiremos a sua música por muitos e muitos anos, se Deus quiser, esteja ele onde estiver.
                  Muitas vezes eu dormia com o cavaquinho na minha cabeceira.
                  Mais tarde, já adolescente comecei estudar música no conservatório em São José dos Campos e então me apaixonei pelas cordas do contrabaixo acústico (rabecão). A música NOITE DE AMOR E PAZ, faixa 12 do meu CD CANÇÕES PARA OUVIR E SONHAR eu compus em 1964, numa peça de estudo em quatro partes como parte de um trabalho de escola. E mais tarde, em 1.969, inseria nela a letra, para com a mesma participar de um festival estudantil de musica popular brasileira.
                    Atualmente as cordas do meu violão choram comigo todas as alegrias e mágoas de amor. Sem o meu violão com suas cordas mágicas os meus poemas não teriam sentido. Se para alguns seres humanos as cordas foram até cruéis para mim às cordas são dádivas de Deus.
                    Acho que muitos de vocês amigos leitores já se emocionaram com o som das cordas de um violão, de um cavaquinho, de um bandolim, de um violino, de uma harpa ou de outro instrumento de cordas qualquer. O som das cordas é envolvente e fascinante.
                    E quem ainda não teve o prazer de dormir numa rede inteiramente feita de cordas? É maravilhoso. Dá-nos uma sensação de paz incrível.
                    Lembro-me que os cabos que serviam para os marinheiros fazer atracar e ancorar os barcos e até navios de grande porte lá no porto (cais) de São Sebastião, eram feitos de cordas gigantescas tanto em comprimento como em espessura, algumas com mais de quatro polegadas de diâmetro. Realmente muito grossas. Atualmente, com o desenvolvimento da tecnologia, esses cabos são feitos de aço flexível de alta resistência, manejados com precisão por meio de motores computadorizados de última geração.
                    Ah! Ah! Ah! Ah. Ainda existe pelo interior de São Paulo e do Brasil afora aqueles fumantes inveterados que ainda usam o famoso fumo de rolo ou de corda. Isto porque o tabaco é feito em formato de uma corda e enrolado, de tal forma que até uns tempos atrás o cidadão ia comprar fumo e lhe era vendido por metro.
                    Mas retomando as cordas dos violões donde milhões de segredos ainda estão escondidos e intactos vem-nos à lembrança a passagem por esse planeta Terra de alguns seres iluminados que souberam explorar com galhardia e sabedoria os sons dolentes que os seus instrumentos produziam. Falo de Baden Power, Paulinho Nogueira, Rafael Rabelo, Dilermando Reis, Canhoto, Garoto e tantos outros que no momento não é possível elencar. Até porque graças a Deus ainda temos no nosso convívio outros desses iluminados que fazem seus violões cantarem coisas de amor o tempo todo, como é o caso do grande Yamandu Costa, Roberto Menescal, Carlinhos Lira, Francisco Araújo (este meu irmão e parceiro querido), Marcos Gomes, Diógenes de Oliveira e mais outros tantos que estão batalhando o pão de cada dia por aí com seus pinhos e suas cordas.
                    Pois é! As cordas tem os seus segredos. Se quiserem desvendá-los nem tentem. Penso que será uma tarefa árdua e inglória. Eu particularmente me contento com o que Deus já me deu, usando as cordas do meu violão para emanar paz, amor e alegria.
 
 
 
 

Nota:

A música de fundo CANÇÃO PARA OUVIR E SONHAR, da minha modesta autoria está na faixa 02 do meu primeiro CD " CANÇÕES PARA OUVIR E SONHAR “ e foi a forma que achei para elucidar essa crônica.