TRIBUTO A NANA MOUSKHOURI

“Sempre tive a impressão de que a música fosse apenas o extravasamento de um grande silêncio”.

(Marguerite Yourcenar)

Era pequeno, não tinha 10 anos ainda, sempre que ia a casa de meus avós paternos gostava de entrar dormitório deles. Meu interesse era devido a um quadro que ficava em cima da penteadeira. Uma reprodução barata de um trabalho realizado pelo grande pintor RAFAEL. Uma imagem de Santa Catarina, divinamente representada pelo artista. Pele alva combinando com cabelos claros, face arredondada com olhos grandes, meigos e bondosos. Beleza singela, mas marcante, que eu inocentemente ficava admirando por muito tempo. Nunca revelei a ninguém, aquela paixão vivenciada na infância.

Outro dia, em minhas viagens pelo espaço virtual resolvi ouvir música para aliviar a tensão diária. A opção foi pela Serenata de Schubert. Coloquei o nome da melodia e cliquei, imediatamente ouvi uma voz feminina maravilhosa que encheu meu coração sexagenário. Na hora, lembrei-me do quadro de Rafael, pois a sensação foi a mesma. Aquele timbre de voz me fez viajar para um mundo desconhecido, maravilhoso, cheio de flores e harmonia.

Identifiquei o nome da cantora e passei a ouvir suas músicas e me encantei...! Minha esposa estranhou meu interesse pela desconhecida. Pois, me referia a ela com entusiasmo, atitude semelhante à de um adolescente apaixonado. No fundo, “minha patroa” não deu muita importância para essa excentricidade. Pois, me conhecia muito bem, afinal mais de 35 anos de convivência diária...!

Em minhas incursões na busca de informações, verifiquei que chamava-se NANA MOUSKOURI e gravou mais de 400 músicas em diversos idiomas, inclusive algumas brasileiras como “Manhã de carnaval” de Luis Bonfá e Antonio Maria e “canta, canta minha gente” de Martinho da vila. Nascida na Grécia no ano de 1934, estaria hoje com 78 anos. Casou-se duas vezes e teve três filhos. Todavia, o fato de ser mais vivida, não mudou em nada. Pelo contrário, aumentou minha admiração e respeito.

Percebi que não era o único “apaixonado”, existem fã clubes de Nana em várias partes do mundo. Contudo, uma nostalgia abateu sobre mim, ao verificar que a conheci muito tarde. Curiosamente vi sua imagem jovem, logo em seguida mais madura, tudo isso de uma vez só. Li também, que era uma artista preocupada com as causas políticas, sempre em defesa da liberdade.

Gostaria de terminar dizendo: “que a procura pela elevação espiritual deve ser uma constante no transcorrer da vida”. A percepção do belo seja pela VISÃO ou AUDIÇÃO mostra que existe outro mundo bem mais sutil e sublime do que esse. Notadamente, os artistas citados no texto constituem instrumentos da providência divina que impelem simples mortais, como eu, à procura incessante por um patamar mais elevado! É claro que antevisão deste “estado de graça” pode ser expressa de outras formas, dependendo da pessoa envolvida.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 21/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4097282
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