Vitória de Pirro

"Mais uma vitória como esta, e estou perdido". Assim, respondeu Pirro, quando o cumprimentaram pela vitória sobre os romanos, na Batalha de Àsculo.

Continuo pensando e refletindo sobre as conquistas feministas, desde o início desse movimento. Vem-me à mente, o título do livro de Lya Luft, “Perdas e ganhos”. Pesando nossas conquistas e o que perdemos, o que concedemos, para consolidá-las, sinto uma certa frustração.

Para que uma conquista seja efetiva, real, total, não deveríamos abrir mão de outras já garantidas. Se para garantirmo-nos mais um direito, tivermos que abrir mão de outro, onde está o ganho?

Acho que continuamos iludidas, pois na verdade, apenas mudamos o modo de submissão tradicional. Foi-nos permitido sair de casa, assumirmos carreiras, desde que não deixássemos de ser boas mães, donas de casa eficientes, filhas dedicadas, esposas apaixonadas e sempre bem dispostas.

Como todas essas atribuições nos tomaram mais espaço, em nosso atarefado dia-a-dia, as “outras” criaram mais espaço. E, como nós, atarefadas polivalentes mulheres, passamos a contribuir com nosso suado salário nas despesas de casa, a condição financeira dos cônjuges fica mais aliviada.

Reflito se é conquista, cada vez mais as mulheres se preocuparem com a estética, visando ou melhor, pensando em explorar seus atributos, expondo-os na mídia, continuando a ser exatamente igual, ou talvez pior, que as mulheres da época em que eram “exploradas”, pois tudo isso tem a finalidade de satisfazer às fantasias masculinas. Quantas mulheres acabam sucumbindo emocionalmente, quando essa efêmera fama acaba? Quando o tempo dissipa esses atributos?

Na verdade, isso que muitas pensam ser liberdade de escolha, não é outra coisa que submissão aos caprichos masculinos. É a venda do corpo, ainda que não haja contato físico.

Posso parecer ser contra os desejos femininos de emancipação, de conquistar nosso lugar ao sol, mas não é isso, em absoluto. Como uma dessas mulheres que saiu de casa, abrindo mão da convivência com filhas pequenas, visando proporcionar-lhes um futuro mais tranqüilo, desejo isso sim, que tenhamos conquistas reais, com reconhecimento de direitos, sem o acréscimo de obrigações que nossos companheiros deveriam dividir conosco, assim como são ágeis no dividir os ganhos.

Muita euforia, nas primeiras conquistas, pode desviar-nos de nossos objetivos principais e acabamos por nos satisfazer com conquistas pequenas. Sentarmo-nos sobre os louros da vitória antecipadamente, enfraqueceu-nos, esfriou nosso ânimo. Ainda não andamos metade do caminho que há pela frente, para realmente podermos festejar um Dia Internacional da Mulher REALIZADA e FELIZ.

12/03/2007