Homem Apaixonado

Estava eu , sentado sozinho em minha mesa sob as luzes amareladas que o teto encardido daquele bar miseravel despejava . Uma duzia de beberrões , algumas mulheres tristes e solitarias preenchendo o vacuo existencial de suas vidas em copos de vinho barato enquanto aguardavam o proximo cliente recem saido do campo de obras , cheirando a azedo , alito podre de cafe e orelhas encardidas. Aquele lugar , um comodo pequeno do tamanho de uma garagem para dois carros recheado de mesas e cadeiras plasticas , posters de cerveja com loiras vestindo bikini sobre um fundo falso de praia e sol laranja , era o lugar para se estar quando tudo parecia não poder piorar mais . Cercado de rostos sofridos vestindo roupas rotas de segunda mão e em alguns casos de terceira . Esse lugar reunia a escoria da cidade baixa , todos os perdedores e fracassados que não deram certo e so estavam aguardando a proxima reencarnação para poderem fazer tudo direito . Naquele antro desalmado de escuridão existia uma especie de camaradagem pela desgraça alheia que fazia a gente se sentir um pouco melhor , pois sempre achavamos que o outro individuo estava numa posição pior em relação ao grande cacete negro que vinha de encontro ao reto . Apesar de todo esterco que preenchia o lugar , lá era o ponto para se estar quando se queria ver algo belo . Ela deslizava entre as mesas , roçando as ancas nos braços dependurados estrategicamente ao lado dos corpos esfarrapados de bebados fetidos . Tinha sempre um sorriso no rosto , olhos castanhos , pele morena , mãos leves e macias que uma vez tive o prazer de tocar quando entregava as moedas em troca de um copo de cerveja . Sua voz era doce , educada . Seus cabelos um pouco apagados eram lindos , uma beleza em estado bruto ; a vida a agraciara com um maravilhoso rosto levemente arredondado e um corpo que por si so não precisava de grandes cuidados para se manter lindo e desejado . As mulheres da vida , as putas sujas de dedos manchados de nicotina e maquiagem borrada que aguardavam os membros rançosos dos operarios invejavam a linda garota de metro e sessenta que desfilava graciosamente pousando copos e cigarros e porções fritas de pele de porco nas mesas enegrecidas . Uma vez quando servia um copo de vinho me deixou ver seus seios soltos ( sem querer , por puro descuido e inocencia ) dentro do macacão amarelado , e naquele momento todos os instintos primitivos que afogam dentro do homem moderno submergiram e por muito pouco não me ajoelhei aos seus pés e implorei que viesse comigo , que nos amassemos por todo o resto da estrada até os portões dourados que nos levaria ao paraiso seja la o que for esse . Ela se tornou minha princesa maia assim como Camilla foi para Bandini . Depois disso passei a fazer visitas menos freguentes a quele lugar . Toda vez que me sentava numa cadeira plastica e ela rangia com meu peso e a pequena donzela escorregava até mim para marcar o pedido meu coração se estilhaçava em mil pedaços e a dor de saber que ela nunca seria minha era cada vez mais insuportavel. Por vezes eu me sentava e pedia a dose mais barata da casa , logo que acabava pedia outra e mais outra até que meus poucos reais se enchugassem do meu bolso , somente para tela perto de mim , somente para sentir o cheiro do seu suor , me aquecer no quente de seu corpo moreno e apreciar seus labios dirigindo a palavra a meu ser miseravel . Aquela espelunca caindo aos pedaços , fedendo a mijo e a cigarro , um lugar horrivel para um homem apaixonado .

28/01/2013

10h09m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 28/01/2013
Código do texto: T4109520
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