O Trem e o Tempo

O Trem e o Tempo

Ao contrário de como dizemos, o tempo não voa. O tempo passa lentamente. Com este sol abrasante de janeiro, saio de minha casa e chego ao trabalho,são três quadras de caminhada.Pela manhã, o sol é forte,queima pouco e me concede um alívio, uma brisa suave fustiga meus cabelos brancos, não sinto a rudeza do tempo,assim venço a distância com mais facilidade.É pouco tempo, isto quando o trem não está manobrando sobre a passagem. Pela parte da tarde o sol está muito mais abrasante,as ruas lotadas de carros e gente, buzinas, roncos de motos, caminhões, ônibus e veículos os mais diversos,parece que fazem o calor quase insuportável. Uns falam em 35°, outros em 40°C. Caminho resoluto em direção ao portão, destravo-o e saio.O cachorro chora. Fecho o portão e começo a caminhar.Sigo em frente, depois à esquerda é o meu caminho.Primeiro é um calçamento de pedras irregulares, depois calçadas de cimento, outras de lajotas.Tudo está muito quente.São quase 14 horas.A caminhada é curta e, penosa, o sol castiga.O casario está fechado.Em frente,pois tenho compromissos e preciso chegar.A penúltima parte da caminhada é um aclive de cerca de cinqüenta metros, talvez menos.Isso não importa.Importa, isto sim, é que a subida é íngreme, que me faz ficar lento como tartaruga, poucas forças me restam, mas sigo assim mesmo.Estou na metade da subida.O suor escorre do rosto e deixa marcas no sovaco.Estou quase lá, vencendo a subida e passando os trilhos estou salvo.Um apito,mais longo apito e ele surge resfolegando sobre trilhos.Uma longa serpente de ferro, carregada com milhares de toneladas de mercadorias.Estaco no asfalto quente para esperar esse bicho passar.O sol agora queima mais.Não há sombra por perto.O comboio ferroviário é longo.Começo a contar os vagões.Vendo-me a contar o maquinista vai aumentando gradativamente a velocidade e já não consigo contar.São muitos vagões, seguem para o infinito.Vejo no último deles e a frase: “A gente nunca para”.Longe, muito longe daqui juntar-se-á a outros trens.A viagem continua. Na minha frente abre-se um vão enorme a indicar-me que o trem já passou.Hora de seguir.Hora de caminhar.Mais uns passos e chego à minha cadeira confortável.

O trem passou,(ele nunca para), mas eu sim preciso parar um pouco na sombra.O tempo não voa, passa lentamente para quem está cansado nesse sol de quarenta graus.

DRMOURA

drmoura
Enviado por drmoura em 28/01/2013
Código do texto: T4110280
Classificação de conteúdo: seguro