O PAU MONUMENTAL DE AÇAILÂNDIA

Era uma bela árvore, centenária, que como milhares de outras, sucumbiu pela insensatez humana. Esta, entretanto, escolhida para simbolizar as outras, partiu da vaidade politiqueira do gestor público. O que queria, só ele sabe. Não importa, a mensagem pode ser lida conforme o olhar do visitante. Exuberantes partes, sobrepostas, de uma vida centenária, como monumento ao que? Ao deleite do prefeito! “O Pau disso”, “ o pau daquilo”, simplesmente um pedaço de pau. A ideia, tão monumental quanto a obra, só tinha tal conotação na mente do autor. Tombada primeiramente pelos dentes laminados da impiedosa moto serra, dando asas à fértil imaginação do caprichoso mandatário, deixou de sombrear os arbustos ao seu redor, para servir de exposição aos olhares de adoradores e de indignados. Seus quartos, que ao menos poderiam ornamentar palácios, formosear lares ou guarnecer conhecimentos em belas estantes, deu-se ao vento e às intempéries do tempo, monumentando simplesmente o desperdício e desprezada à absoluta inutilidade. O “Pau Monumental de Açailândia”, para continuar com essa grandeza de simbolismo do desperdício, submete-se ao segundo tombamento, este, voltado tão somente à perpetuação do ato. Se o tombamento se concretiza, registra-se e perpetua-se a insensatez do seu idealizador. Se não tomba, morre na memória os gemidos da madeira dilacerada nas suas entranhas pela moto serra, para depois servir de glória ao egoísmo de quem, delegado ao exercício do poder, abusou da outorga para edificar a vaidade pessoal. Não sei que destino darão aos restos da infeliz árvore, mas, sensibilizado pelo desfecho do episódio, e vendo a possibilidade de virar cinzas não só os restos mortais da infeliz filha da floresta, mas, por tal sina, apagar da memória a sua própria história, reivindico, para dar outra destinação, com maior dignidade, as toras ressequidas, sobrepostas em cruz, prometendo-lhe forma e utilidade distintas.

Professor José Ribeiro de Oliveira
Enviado por Professor José Ribeiro de Oliveira em 28/01/2013
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