A BOA DE 2013

QUAL É A BOA, 2013?

Eu poderia estar pedindo esmolas ou, quem sabe, planejando algum sequestro... Ou, quem sabe, fazendo qualquer coisa que as mentes vazias e os corações dilacerados pensam em fazer (mas não deveriam).

E por falar em corações dilacerados...eu, então, poderia estar amando dentro de um vagão de trem rumo ao cenário de Before Sunrise, entregando-me a isso ou a qualquer aventura...

Mas não. Estou aqui. Simplesmente aqui. Numa sacada, de uma pousada, sozinha. Observando dois pares de vasos. (sem metáforas, por favor).

Há dois pares de vasos de cerâmica na sacada do prédio em frente à pousada onde me encontro. Ou melhor, onde tento me encontrar. Ao meu lado esquerdo, uma piscina. Azul. Azul. Mas vazia. Vazia. A rua, também vazia. O céu, completamente azul, também vazio. Nem as nuvens ousaram sair de seu paraíso nesse verão.

Onde estarão todos? Em suas casas? Em seus passeios internos? Em algum estúdio da Universal Pictures? Quem o saberá? Em minha primeira crônica de 2013, ninguém apareceu. A não ser o par de vasos da sacada em frente ao meu olhar. Um casal firme, de cerâmica,sólido, solene, quase como um aviso de que, além daquela sacada, ninguém passa, a não ser que seja por cima de seus caquinhos.

Tenho curiosidade: quem moraria naquele primeiro andar , todo gradeado, e “seguro” por dois guardas de cerâmica? Pode ser qualquer tipo de gente: um sequestrador, um matador de aluguel, um dono de quadrilha, daqueles que treinam meninos para assaltarem nos trânsitos ou assustarem velhinhas com suas bolsinhas cheias de moedinhas, a caminho da igreja...

Pode também ser um casal bem sem graça, daqueles que já viveram por anos juntos e não se suportam, mas estão juntos por conveniência. Daquele tipo de casal que come arroz requentado e não fala sobre carinho, aliás, nem trocam palavra alguma, a não ser quando a conta de luz chega e alguém precisa avisar que algo (a conta, ou o amor, tanto faz) venceu.

Mas, pensando bem, e olhando para aquele par de vasos, e observando-lhes os detalhes... eu sinto que há algo a mais ali... não sei... talvez uma cumplicidade, um piscar de olhos ligeiros, um encostar de asas (sim os vasos têm asas). Não! Não é possível que ali vivam bandidos ou casais sem graça...

Eu vi.

Eu senti.

Ali não mora qualquer casal. Ali mora eu, com meu amor, em nossos melhores dias, de todos os melhores momentos, prazeres e segredos. E Estamos em silêncio, de plantão, para que nenhum mal entre em nosso lar.

Sim. É isso. Nenhum mal irá nos atingir. Jamais. Não foi isso que combinamos?

Perdão, meu bem. Quase ia me esquecendo de que o combinado entre nós foi: todas as vezes em que aqueles vasos ali estivessem, lá dentro, estaríamos nós. Em nossa eternidade de amor...

Sim, caro leitor invisível, eu poderia estar roubando ou planejando sequestrar o Obama (Não, na verdade, não poderia, porque isso não faz parte de minha essência!) E, poderia, ao menos estar revoltada contra a humanidade!!!!. Mas não! Estou simplesmente aqui, com fatos mais importantes em minha mente. Lembrando do que poderia ter sido se tivesse havido ou do que poderá ser se meu amor quiser que ainda exista. Porque ele sabe: os vasos ali estão.

Sempre dispostos e sempre a postos.

Adriana Luz – janeiro de 2013

Adriana Luz
Enviado por Adriana Luz em 30/01/2013
Reeditado em 01/02/2013
Código do texto: T4114395
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