Romaria à Congonhas na década de trinta

Tio Alípio, aos quinze anos, integrou-se à comitiva de Miguel Gontijo, e sua esposa Carolina, para, pela primeira vez, fazer uma romaria a Congonhas. Enturmou-se facilmente com os participantes Adolfo Pereira, José Ferreira, Joaquim Barbosa e Clementina, Joaquim Coelho, Pedro Coelho, Joaquim Norvino e mais alguns.

Os congonheiros iam todos a cavalo em marcha lenta, levando cada um, num singelo alforje seus pertences pessoais. E o cargueiro daquele ano era o Joaquim Norvino que ia a pé guiando as mulas que levavam uns enormes balaios com as provisões para a alimentação de toda a turma. E felizes iam nas trilhas. Cada um tinha o seu embornal onde levava farofa para comer no caminho sem a necessidade de parar e o cantil amarrado no arreio. Á tardinha faziam o primeiro pouso no Córrego Areado na cidade de Jacuba. Era a hora da bóia e do descanso das pessoas e dos animais.

Os cavalos eram alimentados e a sede saciada com bastante água. Joaquim Norvino preparava a comida que todos comiam com muito gosto: arroz, feijão, carne, lingüiça, macarrão. Vinha depois a sobremesa: doce de leite com queijo e também rapadura. Antes de anoitecer montavam o acampamento e depois contavam casos esperando a chegada do sono.

No segundo dia de viagem levantavam cedo e tomavam café com biscoito. De novo na estrada. E à tarde chegavam no segundo lugar para o pouso em Engenho do Dama. Se chovesse, alugavam uma grande coberta numa fazenda próxima. Miguel Gontijo era muito conhecido, pois por mais de dez anos, ele fazia essa viagem pelas trilhas que levavam a Congonhas do Campo.

E a história se repetia no penúltimo dia de viagem no pé da Serra perto da cidade de Belo Vale. No dia seguinte era só “dobrar” a serra e chegariam em Congonhas para almoçar.

Ao chegar eram abordados pelos proprietários de grandes casas que alugavam--nas por mil reis para os dias da festa . Os cavalos eram levados para o pasto onde cada um, por 200 reis, recebia bons cuidados.

Tomavam o banho de caneca, faziam o almoço e passavam com muito ânimo e fé aqueles dias na festa do Senhor Bom Jesus de Matozinhos. Os missionários instruíam os fieis, faziam a Via-Sacra nos Passos da Paixão. Tinham a missa diária com a bênção especial aos romeiros. E assim transcorriam os dias onze, doze e treze. No dia catorze já estavam todos prontos de “mala e cuia” para a volta. Esperavam a “bênção papal” e pé na estrada com a alma leve e o coração feliz. E na volta pra casa já combinavam como seriam os preparativos para a participação no ano seguinte no mesmo mês de setembro.

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Frei Dimão, que saudade! Que bom que apareceu! Eu penso que houve a penitência, sim, mas este detalhe não me quiseram contar! Abração.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 05/02/2013
Reeditado em 08/02/2013
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