Grito de Alerta

Li o comentário da última crônica em o leitor finalizou me agradecendo pelo grito de alerta. Desde então fiquei tentada a usar a expressão como título para um novo texto.

Encontramos-nos em uma cidade do interior do Rio grande do Sul. Enquanto professora eu não poderia pensar em deixar de pensar no meu aluno Jose que pode, ou poderia vir a ter qualquer outro nome, por hora, simplesmente José. Ele tem a língua presa, os dentes fora do lugar e problemas psicológicos e sociais. Claro que me dedico e dedico muito de meu carinho a esta criança.

Voltando a realidade, seu pai são cortadores de mato, a mãe quase analfabeta e o pai totalmente analfabeto. Quatro crianças pequenas. Encaminhamento? A escola tem coleções, por si própria, indicação minha e de colegas. Até agora nenhuma solução.

Sempre fui muito questionada por alguns colegas de como o José avançava de ano, por que José não sabe ler, José não sabe escrever, José não sabe falar.

Minha resposta ao Município, ao Estado e ao País:

- Vou tirar da criança as únicas coisas que possui: a convivência e amizade com colegas, à autoestima nem tão elevada assim. Repetindo o ano não vai aprender mais nem menos, enquanto não for devidamente atendido.

Ele precisa de fonoaudiólogo, aparelho dentário, tratamento psicológico. Alguém atendeu isto? Não!

Outro cenário, Rio Grande do Sul, Região Metropolitana de Porto Alegre: A filha de um casal de amigos com Síndrome de Down não recebeu o mesmo livro que sua turma porque seria desperdício de material.

Neste momento eu paro e penso, utilizei dois exemplos das dezenas que conheço em minha pequena área de ação. Brasil a fora, quanta crianças deficientes sem atenção e valorização adequadas existem, a realidade não deve divergir muito de um estado a outro neste sentido.

Voltando ao meu aluno José, que é muito inteligente apesar de suas limitações, imagino seu grito de alerta se tivesse maturidade e linguajem suficientes:

- Este é o meu grito de alerta, Não sou assim porque quero! Sou assim porque meus pais são pobres não tem dinheiro, nem instrução para o meu tratamento. E você ficam aí pensando em seus próprios problemas. Ninguém faz nada por mim!

Maugarina
Enviado por Maugarina em 07/02/2013
Reeditado em 08/02/2013
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