RIO - PARQUE LAGE

Eu morava no bairro de Botafogo. Bairro que não me sai da lembrança. Aliás, nada me sai da lembrança, nem a figura daquela mulher chata, dona da pensão.

Eu saía, ia àquele parque. Lá procurava conhecer gente simpática, falar de minha vida. Sentava num daqueles bancos e ficava tocando violão, ou lendo algum livro. Queria sossego.

Muitos lugares no Rio de Janeiro me marcaram. O Paque Lage foi um, que muito frequentei.

Depois vim embora, voltei a esta terra. Mas nunca esqueci dos anos que morei no Rio. Há mais de vinte anos não vejo aquele parque.

Ele ficou muito na minha memória porque eu muito o frequentava.

Tinha um pé de jambo a poucos metros da Escola de Artes Visuais. Lá adiante tinha uns pés de manga, outros de jaca, e bananeiras.

Conheci muita gente na entrada da Escola, nos bancos externos, nos caminhos que seguiam pela floresta.

Lembro-me das grutas, da água que descia lá de cima, formava aquele lago, descia mais. Para onde ia aquela água? Para a Lagoa Rodrigo de Freitas, suponho.

Eu trabalhava numa editora em Botafogo. Aos sábados e domingos não queria ficar naquela pensão. Ia para o Parque, ou para outro lugar.

Mas acabei mesmo voltando para o Sul.

As lembranças ficaram e marcaram. O Parque era muito verde.

Mas aconteciam coisas.

Já decidido a deixar o Rio, fui ainda num domingo ao Parque. Sentei-me num daqueles bancos lá atrás no meio das árvores.

Noutro banco, mais adiante, acomodou-se um casal de jovens. Poderiam ser namorados, mas estavam quietos. Supus que eles não se conheceram naquele dia, porque quando um rapaz e uma moça se conhecem, eles falam bastante, para conhecer-se melhor.

A moça era uma morena lindíssima. Num dado momento percebi que ela sorria, mas o rapaz estava quieto, pensativo. Eles não prestaram a menor atenção em mim.

Levantei-me e tratei de caminhar um pouco. Eu era sozinho, mas não gostava de estar sempre só. Uma situação que me incomodava um pouco. Eu sempre procurava aproximação com alguma moça que também estivesse sozinha. Assim foi que conheci muitas no Parque.

Mas naquele dia não conheci ninguém. Caminhei pra cá e pra lá por meia hora. Acabei encontrando-me com o guarda do parque, e conversamos um pouco. No mesmo momento entrou no Parque um caminhão do corpo de bombeiros e uma viatura policial. Que houve?

O guarda disse-me que bem lá para cima, dentro do mato, foi encontrado o corpo de uma morena muito bonita, era fora entrangulada.

Fui até o local onde os carros pararam. Os bombeiros já haviam entrado no mato para recolher o corpo. Mas estavam demorando para retornar.

Enquanto isso, no carro dos bombeiros, o rádio estava ligado, transmitindo um jogo de futebol. Era o Flamengo em campo, no Maracanã.

Não me interessava o futebol naquela hora.

Fui embora do Parque.

Depois fui embora do Rio de Janeiro.

Mas talvez um dia volte para rever o Rio.

Para rever aquele parque.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 08/02/2013
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