Crônica de uma boa saúde.

Quando criança tinha eu meus quatro anos de idade, mal chegado ao mundo vim do Rio de Janeiro morar no interior de São Paulo, em uma chácara de meu querido avô que possuía uma bela granja donde aprendi a conviver com galos e galinhas e ovos frescos. O fato é que meu pai um caminhoneiro com brevet de piloto (sério, era piloto também) tinha uma bendita alma cigana e nos levava de cidade em cidade e por suas condições financeiras nem sempre favoráveis recorria ao que dava e assim cada cidade um filho, até totalizarmos meia dúzia e a maioria nascidas em partos assistidos por parteiras (tempo bom). O lugar era bastante aprazível, tínhamos um belo quintal com frutas de vários tipos, luz somente durante o dia, a noite um velho gerador a diesel que Geraldo o caseiro ligava pra as lidas da noite. Por ali vivemos uns dois anos se esta velha memória não me trair, mas lembro de coisas incríveis e fantásticas que aprendi no convívio campônio do meu início de vida. Uma dessas coisas, era o lago pequeno que uma vez ou outra meu pai, quando aparecia de suas viagens ou me fazia um carrinho com caixote de batatas ou me levava pra pescar nesse lago que ficava em frente no sítio do seu João e dona Mariquinha, uma senhorinha sensacional que adorava fazer mingau de aveia toda vez que La eu ia. Era um lago tranquilo e pequeno forrado por tabocas e ali seu Justino apanhava uns carás e lambaris pro seu jantarzinho e também pra esfriar a cabeça de tantas viagens em seu FNM (pronuncia-se FENEMÊ). Uma coisa me chamava muito atenção em D. Mariquinha, que era sua maneira de lavar suas panelas; ela tirava a água da cacimba e depois passava um sabão feito por ela mesma e pra dar o brilho final, imaginem.....pegava areia fina do quintal e tascava naquelas panelas pretas do fogão a lenha e as deixava limpas e brilhantes. A água da cacimba era colocada num filtro de barro e ficava com aquele gostinho de barro e geladinha.

Bem !! porque escrevo essas coisas? Porque D. Mariquinha faleceu aos 92 anos e seu João aos 88 anos; certamente foi por causa da areia nas panelas ou da água de cacimba e diante dessa modernidade atual onde a dietética perdeu seu rumo, comer isso aquilo engorda ou da câncer, penso em alugar um sitiozinho e começar a lavar as panelas com areia e beber água de mina e quem sabe sem TV, pois assim não ouvirei e nem verei especialistas falando o que comer, quando comer, o que beber, como beber, andar e como andar, viver e como viver; ah!!! D. Mariquinha, quantas coisas a senhora deixou de ver e assistir, morreu feliz sem saber porque talvez se soubesse eu não estaria contando sua história, o mundo hoje ta um saco, tudo faz mal, tudo mata, tudo está insuportavelmente regrado, como se a vida fosse uma linha de produção e essa gente regradora, esquece que o tempo ensina e o que mais mata com o ...........passar do tempo.