Seios

Os seios: primeira fonte de alimento, primeira fonte de prazer. Todas as bestas mamíferas partilham do instinto materno de amamentar sua cria e chegam a quando lhes é roubada a chance, adotar outros filhotes para doarem a vida que escorre de si. Se não fosse pela necessidade da Loba Ancestral em alimentar os irmãos Rômulo e Remo, Roma não existiria.

Hércules, o maior dos heróis greco-romanos, só se tornou imortal depois de se alimentar do seio de Hera; que ao despertar e se deparar com o bastardo de seu marido lhe sugando o leite lhe ergueu a mão e foi ferida pela força do recém-nascido que apertou seu seio e espirrou o leite divino longe formando assim a Via Láctea.

Ao nascer a criança só cessa de chorar ao sentir o calor do colo da mãe, ouvindo o bater de seu coração, canção de ninar comum enquanto no útero. E aprende rápido a usar de seu choro estridente arma para extorquir leite e abocanhar o seio quantas vezes puder. Os filhotes dos mamíferos lutam para mamar e os que não vencem, morrem. O leão mata a cria de outros machos para garantir que apenas seus herdeiros tenham o direito de mamar e continuar a sua linhagem.

Na Idade Média havia as amas-de-leite, mulheres que tinham seu período de lactação prolongado ao máximo e eram obrigadas a dividir seus seios com os filhos dos nobres garantindo assim que eles não perecessem e eram obrigadas em último caso a escolher entre a prole alheia à própria.

Quando queremos nos lembrar dos grandes que marcaram a história, talhamos bustos, efígies de suas figuras que esculpidas, tornam-se imortais. Tornam-se símbolos, ícones, emblemas, figuras em moedas, selos.

Cleópatra ao decidir tirar sua vida ante a iminência da destruição pelo exército romano, junto com seu amante, diz-se, deixou-se picar no seio pela naja negra para deixar aos seus carrascos um cadáver belo.

Julieta ao retornar de seu sono induzido e encontrar o corpo de seu amado, usa de seu punhal para cravar no peito a lâmina e assim se encontrar com seu amor no pós-vida.

As amazonas, caçadoras lendárias da mitologia, amputavam seus seios esquerdos para melhor manusear o arco.

Em um protesto memorável contra a opressão masculina mulheres queimaram seus sutiãs na década de setenta nos Estados Unidos.

É por vergonha do próprio corpo e do toque, ignorância e falta de costume que a segunda maior causa de morte de mulheres é ainda o câncer de mama. Por outro lado, por vaidade as mulheres pedem e pagam para serem cortadas e taxidermizadas como animais empalhados para terem seus seios aumentados.

Os homens para sempre serão encantados, enfeitiçados pelo poder dos seios, por seu calor e magia e neles muitas vezes acabam por despejar seu próprio leite, retribuindo com gotas quentes simbolicamente a fonte de onde no começo de suas vidas se fartaram.

Mas mais do que isso, as bocas dos homens serão eternamente atraídas pelos seios. E suas mãos eternamente irão ao seu encontro. Seus olhos serão hipnotizados por eles. E os homens os desejarão, mesmo sem ao certo entender a razão disso. Está em nós homens procurarmos por eles, pelos seios, por toda a vida. Desde o nascimento até o fim. Porque neles nos alimentamos, nos satisfazemos, nos afirmamos, sobrevivemos, nos esbaldamos e nos saciamos. Entre eles, sobre eles, em seus bicos. Deles escorre a humanidade.

José Rodolfo Klimek Depetris Machado
Enviado por José Rodolfo Klimek Depetris Machado em 12/02/2013
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