PAUSA PARA PENSAR

São coisas que vão ficando pelo caminho. Perdidas, abandonadas, esquecidas, deixadas somente. São coisas, são pessoas. Vão aos poucos ficando para trás. E um dia lembramos. Com saudades ou lamentos, lembramos. Pensamos então: Por quê? Por que ficaram lá atrás? Ainda estariam lá? Seria possível (seria bom?) buscar? Ter de volta? Viver novamente?Nos caminhos que são sempre longos, cheios de curvas, paisagens que trazem desde desertos aos mais florescentes campos; das longas linhas que encontram o horizonte aos despenhadeiros que caem em direção aos confins da Terra. Nestes caminhos fomos passando e fomos deixando traços. E além de nossas pegadas, foram ficando todas as coisas e pessoas que dele fizeram parte num momento ou outro. Não é tudo que nos acompanha do início ao fim. Pouco temos dos tempos em que começamos. Do que lembramos?

De ter perdido aquela foto linda ou as ilusões todas de um dia? Lembramos dos abandonos, os que nos abandonaram e o que abandonamos? E tudo o que ficou esquecido? E tudo o que simplesmente deixamos? Deixamos porque estávamos cansados, falidos, fartos, sem vontade? Ou talvez porque fosse somente necessário. Migalhas de pão, pedrinhas, pedaços de vida, aos poucos tanto e tantos foram ficando pelo caminho.

Deixamos para trás o amigo que tomou outra estrada; deixamos a roupa que não nos servia mais. Perdemos o livro que ainda nem tinha sido lido; perdemos sonhos que cobiçavam a realidade. Abandonamos o móvel que tinha se tornado velho demais; abandonamos o amor que não encontrava mais esperanças. Esquecemos aquela caneta em algum canto sem mais saber onde procurá-la; esquecemos pessoas que pouco a pouco foram se distanciando no tempo.

Vamos seguindo adiante, volta e meia um olhar para trás nos faz divagar. Mas retomamos a caminhada. Voltar é algo que não acontecerá. Voltas tornaram-se desejos impossíveis. Que também ficarão pelo caminho. Perdidos, abandonados, esquecidos ou tão somente deixados lá, naquele momento a mais.

Toda sequência assim é, o caminho continuará e deveremos seguir. Mesmo parando, descansando, lembrando, deveremos seguir. Seguir com a velocidade dos nossos passos, levando conosco a bagagem, leve ou cheia de peso, de tudo o que nele foi vivido. E melhor seria apreciar com carinho a paisagem. Até chegar ao destino final onde, talvez, tudo o que ficou para trás poderá estar também.