A vingança do teiú

O fogo tomou conta da plantação de milho e sorgo em menos de um minuto. O jovem fazendeiro não teve o que fazer a não ser observar, com lágrimas nos olhos, as chamas se espalharem e devorarem o que não mais seria o alimento do seu gado durante a seca daquele ano. Prejuízo na certa. E tudo por causa de um lagarto rajado de preto e amarelo, conhecido naquelas bandas como teiú. Culpa dele. Pelo menos era isso que resmungava para si o fazendeiro enquanto assistia ao tenebroso espetáculo, cheio de tristeza no olhar.

Do outro lado da plantação em chamas, o galpão onde ele guardava sua coleção de carros das décadas de 50 e 60 tremia como miragem no asfalto por trás da enorme cortina de fumaça e calor; mas ele não se preocupou com a hipótese do seu hobby vir a ser atingido pelo fogo, que estalava a uma distância considerável do local.

Mas e o gado? O que ele ia fazer para alimentar o gado na seca? “Se não fosse aquele maldito lagarto...”, balbuciou, com os punhos fechados, o ódio lhe escapando num bafo quente e seco pela boca.

Se não fosse aquele maldito lagarto? Como é que ele pôde dizer uma coisa dessas? Foi ele que jogou gasolina e tocou fogo no teiú por pura maldade, só para ver o animal correr desesperado e depois morrer esturricado, transformado em carvão, num canto qualquer! Só que o bicho, ao invés de ficar no descampado onde se encontrava, correu direto para a plantação de milho e sorgo...

E não foi só. De repente, do inferno de labaredas que se espalhava pelo outro lado da plantação, o teiú saiu correndo, em chamas, como uma fênix ressurgindo das cinzas. A fumaça tinha sido dissipada um pouco pelo vento, permitindo ao fazendeiro ver com clareza o lagarto atravessar a estrada como um meteoro em combustão e ir direto para o galpão de carros antigos. O jovem ficou alarmado, mas não muito, pois o fogo no corpo do animal era pouco para representar uma ameaça ao galpão e aos carros. Mesmo assim ele correu em direção ao local, assombrado com a incrível capacidade daquele bicho de se manter vivo em chamas por tanto tempo. “Como é que pode?”, pensou.

Pois eu digo que pode. E não foi só. Correndo como um louco, o fazendeiro se lembrou que um dos carros, um Impala 1958, estava com um pequeno vazamento de combustível, que ele ia consertar ainda naquela semana. “Meu Deus, não!”, gritou o homem desesperado, já quase na porta do galpão.

Foi quando houve a explosão, e o carro voou pelos ares, danificando gravemente pelo menos cinco outros que se encontravam nas proximidades. Quase sem forças, tremendo dos pés à cabeça, o fazendeiro alcançou com dificuldade o extintor de incêndio na parede do galpão, mas por mais que tentasse, não conseguiu fazê-lo funcionar. Arrasado, caiu de bruços no chão, onde logo foi encontrado por dois empregados da fazenda. Passou a noite no hospital, em choque.

Quanto ao teiú, simplesmente desapareceu. Seus restos mortais nunca foram encontrados.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 16/02/2013
Código do texto: T4143079
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