O carnaval terminou para o ano começar!

Fecharam-se as cortinas do palco do samba, axé, frevo e muita folia. Confetes, serpentinas, marchinhas, músicas, bundas e remelexos monopolizaram os noticiários - como de costume em todo fevereiro - e nem mesmo a renúncia do Papa tirou o brilho da festa mais popular do planeta, onde o gorducho Momo é rei, e seus súditos, foliões que fazem de tudo para embelezar o reinado de quase uma semana com muita pompa e alegria. O espetáculo mais celebrado do ano terminou!

Dizem que o Brasil é “o país do carnaval”, e o porquê se vê nas ruas do Caburaí ao Chuí. A Bahia com seu axé nos trios elétricos, que ecoa de Salvador para o mundo; Pernambuco com muito frevo, bonecos e fantasiados no sobe e desce das inúmeras ladeiras de Olinda; o Rio de Janeiro e São Paulo com os belíssimos e luxuosos desfiles das escolas de samba, que enchem os olhos dos gringos e os fazem simular passinhos de samba, desengonçados como lagartixas com cãibra. Isso é apenas a parte de maior visibilidade do nosso rico carnaval.

O brasileiro, que carrega nas veias e nos rostos a miscigenação de vários povos e culturas, com a força, garra e alegria de quem foi por muito tempo oprimido nas senzalas, sabe fazer festa como ninguém. Nessa época, o mundo volta os olhos para o país do samba, futebol e carnaval - muito mais atraente e imponente que os bailes de máscaras de Veneza - porque reconhece a alegria transpirada nos quatro cantos do Brasil, que esquece a pobreza e a corrupção para dançar no ritmo da música contagiante tocada.

Friso que o carnaval não é apenas do folião, é para todos: os que gostam dele, os que são indiferentes a ele, e aqueles que o ignoram ou dizem que o odeiam. Alguns aproveitam muito bem esses dias para descansar, relaxar e compartilhar momentos com a família e amigos, esquecendo-se da turbulência diária de suas estressantes jornadas de trabalho ou estudos indo para casas de campo, praias, retiros espirituais, cinemas, entre outras opções longe da folia, barulho e tumulto, típicos do período.

Como o Brasil não é um Paraíso do Éden, e está longe disso, sabe-se que esta “festa pagã” é também um período de números elevados, sejam eles de acidentes automobilísticos (nas estradas ou cidades), atendimentos hospitalares, contágio de doenças sexualmente transmissíveis, e, principalmente, mortes. Hoje, no carnaval todo cuidado é pouco, pois a irresponsabilidade humana se aflora, e corre-se o risco de sair para pular com uma fantasia de super-herói e voltar para casa vestido numa mortalha, e em vez de seguir acompanhando um bloco de frevo ou axé, ser acompanhado por um cortejo na batida da marcha fúnebre. Ao menos neste ano, as estatísticas apontaram que a “Lei Seca” colaborou para a diminuição dos números passados. Ponto para os legisladores!

Há quem afirme que o Brasil pára completamente no carnaval, mas estas pessoas estão muito enganadas. Destaco que alguns ramos da economia, nesta época, estão a todo vapor e com a lucratividade altíssima; vale mencionar a indústria do turismo e hoteleira, de bebidas (que enche seus cofres ainda mais), de fantasias, os donos de casas de praia, os artistas, os organizadores de eventos, e todo o aglomerado em volta desses grupos; além dos ambulantes que aproveitam para supervalorizar seus produtos e ganhar um dinheirinho a mais. Assim, a economia brasileira agradece, e enquanto muitos se divertem, outros garantem a manutenção do pão de cada dia divertindo-se no bloco da oferta e da procura, que por sinal tem público garantido.

Ressalto que as juras e promessas da virada de ano, normalmente, têm seus efeitos suspensos até o carnaval; na verdade, só começam a valer após a Quarta-feira de Cinzas. A partir de agora, o bom brasileiro, descendente direto do anti-herói Macunaíma, e festeiro por natureza, começa a se preparar para o São João; esse já está cultivando o milho, separando a lenha das fogueiras e produzindo os fogos para a abertura dos arraiais de quadrilha e forró. Na prática, o carnaval precisa terminar para o ano e os preparativos das próximas festas começarem. Por isso afirmo que sempre foi assim, e assim sempre será; afinal, aqui temos festa o ano inteiro, e nossos políticos não me deixam mentir. E viva o carnaval!

Robson Alves Costa

(16/02/2013)