Em quadrinhos

Na caixa de correio, propaganda religiosa “contando” a história do Rei David: ilustrações no mais puro mangá; o rei judeu virou herói japonês.

As histórias em quadrinhos começaram na pré-história, com as pinturas rupestres e nunca mais morreram. Os hieróglifos egípcios, a decoração das tumbas dos faraós, os altos relevos em monumentos de tantos e tantos povos, as representações de passagens religiosas em tapeçarias vitrais etc. etc., todos têm o mesmo princípio e a mesma trama: contar fatos ou lendas através de sua representação em figuras.

Apesar de serem tão antigas quanto a inteligência humana, ainda existe (muita) gente que afirma que são danosas ao desenvolvimento das pessoas por levarem à preguiça mental e assim vai. Plínio Salgado, fundador do integralismo, escrevia e falava com uma precisão invejável, já suas opiniões nem sempre estavam entre as mais acertadas. Chamou as histórias em quadrinhos e os desenhos animados de “organização internacional” destinada a formar uma geração de preguiçosos mentais e por aí vai.

Exatamente ao contrário dessa crença, os quadrinhos, as charges, os desenhos, além de serem uma arte que exige muito talento, estudo e dedicação, exercitam a imaginação de quem os lê e levam a outras leituras, erradamente tratadas como “mais sofisticadas”. Mas seu maior mérito é o de desenvolver a consciência de outros costumes, lugares, valores e de aprender a rir do que parece sério, mas é risível. Se tivessem apenas esse último mérito, já se justificariam.

Contar uma história inteira em três quadros e não mais de meia dúzia de palavras, mostrar o imenso ridículo, a enorme tristeza ou a incontida alegria em uma charge, traduzir toda emoção no desenho de uma boca ou dois olhos não é para qualquer um, é para quem entende o mundo e o vê com olhos perspicazes.

Fiz uma lista de autores que vai de Guido Crepax, o criador de Valentina, a única personagem de HQ que envelheceu nos traços, a Mendes, o ilustrador do ND, Sandro Schmidt, do Cão Tarado e Geraldo Poerner com seus impagáveis Monstrinhos do Cachoeira; de Tarzan a Radicci, mas acabou o espaço. O Baixim do Henfil, faria um gesto consagrado para explicar minha situação. Sem uma palavra!